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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Dois filmes que você deve assistir antes de morrer...





O Nascimento de uma Nação (em inglês: The Birth of a Nation) é um filme mudo estadunidense de 1915 co-escrito, co-produzido e dirigido por D. W. Griffith, baseado no romance e na peça The Clansman, ambas de Thomas Dixon, Jr. Lançado em 8 de fevereiro de 1915, o filme era originalmente apresentado em duas partes, separadas por um intervalo.
O filme relata as vidas de duas famílias durante a Guerra de Secessão e a subsequente Reconstrução dos Estados Unidos – os Stonemans, nortistas pró-União e os Camerons, sulistas pró-Confederação. O assassinato de Abraham Lincoln por John Wilkes Booth é dramatizado no filme.
O filme foi um enorme sucesso comercial, mas foi altamente criticado por retratar os afro-americanos (interpretados por atores brancos com as caras pintadas de negro) como ininteligentes e sexualmente agressivos em relação às mulheres brancas, e também por apresentar a Ku Klux Klan (cuja fundação original é dramatizada) como uma força heróica.[1][2] Os protestos contra O Nascimento de uma Nação foram generalizados[3] e o filme acabou sendo banido de várias cidades. A queixa de que se tratava de um filme racista foi tão grande que inspirou D. W. Griffith a produzir Intolerância no ano seguinte.[4]
O filme é creditado como um dos eventos responsáveis pelo ressurgimento da Ku Klux Klan em Stone Mountain, Geórgia no mesmo ano em que foi lançado. O Nascimento de uma Nação foi usado pela Ku Klux Klan como ferramenta de recrutamento até meados da década de 1970.[5]
O Nascimento de uma Nação foi o primeiro filme a ser exibido na Casa Branca. O presidente Woodrow Wilson teria dito que o filme é "a história escrita em relâmpagos. E meu único lamento é que é tudo tão terrivelmente verdade". A veracidade da afirmação é, no entanto, contestada.
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Dogville


Sinopse
Anos 30, Dogville, um lugarejo nas Montanhas Rochosas. Grace (Nicole Kidman), uma bela desconhecida, aparece no lugar ao tentar fugir de gângsters. Com o apoio de Tom Edison (Paul Bettany), o auto-designado porta-voz da pequena comunidade, Grace é escondida pela pequena cidade e, em troca, trabalhará para eles. Fica acertado que após duas semanas ocorrerá uma votação para decidir se ela fica. Após este "período de testes" Grace é aprovada por unanimidade, mas quando a procura por ela se intensifica os moradores exigem algo mais em troca do risco de escondê-la. É quando ela descobre de modo duro que nesta cidade a bondade é algo bem relativo, pois Dogville começa a mostrar seus dentes. No entanto Grace carrega um segredo, que pode ser muito perigoso para a cidade.
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Comentário: Esses dois filmes são o retrato, a psicoanálise, a tomografia, a endoscopia e a retossigmoidoscopia da alma americana. O primeiro tem uma cena de eugenia explícita quando um médico (cena real) deixa um recém-nascido morrer porque nasce com alguma deficiência e o segundo, Dogville, deve ser assistido antes de Manderley (do mesmo autor) que o completa.

Assuero

Dois filmes que você deve assistir antes de morrer...

terça-feira, 29 de novembro de 2011

                                                              Para os advogados



Talvez os advogados vejam os seres humanos como entidades jurídicas passíveis de conflitos resolvíveis em tribunais ou em instâncias diversas. Talvez enxerguem o lado mais contraditório e difícil e sejam as antíteses dos poetas e apaixonados que só veem o belo, o invisível, o etéreo, o lado inverso do espelho que é o outro.
Os causídicos talvez não saibam que da substância das estrelas é de que somos feitos e por isso sempre que conseguimos olhar para elas sem contá-las, nem medi-las, e vê-las apenas no brilho interior que nós temos, ficamos mais felizes, mais humanos e nos aproximamos mais de Deus.

Assuero

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Natalício come luz...






Natalício Come Luz


Natalício nasceu cego, na periferia de Recife, por causa de uma sífilis não tratada de sua mãe. Nasceu no dia de Natal, daí seu nome.
Como toda criança paupérrima não teve acesso à escola e praticamente foi abandonado por sua mãe aos seis anos de idade por causa do novo companheiro dela que não suportava choro de menino, sendo muito violento, ligado ao narcotráfico.
Vagava a criança por entre cães e lixo, dormindo nas ruas, ou melhor, nas calçadas, sob as marquises, ora alimentado por um pedinte ou por outro, até que uma mais esperta, o “alugou” para seu ofício de esmoler, o que lhe trouxe uma melhoria nos ganhos, pois exibia Natalício em toda sua desgraça, nos vários semáforos da cidade.
Como toda criança, Natalício sonhava. O que mais desejava era comida. O que lhe davam, eram restos dos restos do que mendigavam, e como ele não conhecia bem quais eram os sabores, quando experimentava doce, seus olhos sem luz, se iluminavam por instantes fugidios.
A falsa mãe fazia questão que ele não engordasse e que ficasse praticamente desnudo para angariar mais dinheiro nas esmolas. Era uma criança envolta em panos, farrapos melhor dizendo.
Natalício, como todo cego e todo poeta, pode ver na escuridão, como já disse Chico, e aproveitando o compositor, certa vez a criança ouviu tocando no rádio a música Brejo da Cruz, onde as crianças se alimentavam de luz. Natalício começou a aperrear sua falsa mãe para saber que gosto tinha a luz e se ele poderia experimentar também.
Muitas e muitas vezes eles comeram sopa, de madrugada, que grupos caridosos distribuíam nas ruas do centro.
-Essa é luz? Perguntava Natalício.
-Não. Fica calado e come, menino buchudo! – respondia a mulher. Isso é água com sal. Água de mar. Natalício sentia gosto de lágrima.
Natalício revirava os olhos e triste se fechava ainda mais no seu mundo sombrio. Quando estava muito escuro mesmo, a mulher pedia para ele ir orientando o caminho.
O que mais Natalício queria era doce.
Estava chegando o natal, e como acontece todo ano, muitas pessoas compram presentes e distribuem junto com a sopa. É uma festa. Pena que Natalício não podia ver, mas gostava de ouvir os apitos, os piões rodando, as bolas batendo no chão.
Era dura a vida para ele, muito dura. Muitas vezes levou palmadas para chorar, para atrair a atenção dos motoristas ou pedestres e causar dó nas pessoas. Quando lhe perguntavam o que sentia, a mulher dizia que estava doente sem remédio e sem comida.
Esse Natal não seria diferente dos outros. Apenas um detalhe. Alguém deu-lhe um pedaço de chocolate, mordido já, a bem da verdade, mas um pedaço de chocolate! Natalício jamais havia experimentado tal sensação. Imediatamente ligou o sabor à luz, sim, havia experimentado o sabor da luz! E que sabor...
Como ninguém nunca sente desejo por algo que nunca tenha experimentado ou visto, nosso menino passou a pedir por chocolate, ou melhor, por luz. Inicialmente baixinho e depois, como não era atendido, gritava.
-Quero luz, quero luz!
A princípio a mulher achou bom, porque quem passava pensava que o menino pedia a visão e se compadeciam mais ainda dele, aumentando a esmola. O problema é que quando não estava ninguém por perto ele continuava a gritar: - Quero luz! Estou com fome de luz!
Em vez de comprar um chocolate para ele a mulher batia cada vez mais forte. Quanto mais ele pedia luz mais apanhava, de tal maneira que algumas pessoas vendo os arranhões e os hematomas pelo corpo, perguntavam o que estava acontecendo e ela dizia que por ele ser cego, caía muito.
Na véspera do natal, Natalício conseguiu fugir, nem que por algumas horas, quando a mulher havia tomado uns copos de aguardente. Tropeçando, se arrastando, perguntando, esgueirou-se por dentro de uma pequena capela onde se falava do nascimento do menino Jesus, naquela parte da estrela. Natalício ouviu atento. O pregador falava que a estrela de Belém deixava um caminho de luz para orientar os magos e iluminava a noite e parou bem em cima da manjedoura com muita luz, uma intensa luz que clareou toda a escuridão do mundo. Natalício imaginava uma imensa quantidade de chocolate, e se ele acaso houvesse visto o mar imaginaria um mar de chocolate.
Natalício desejou então, de todo coração, estar presente naquela noite na gruta de Belém. Ah! Como ficaria feliz, poder experimentar toda a luz que sentisse vontade. Saciar-se de luz. Quanto a Jesus ele tinha vontade de conhecer também, embora achasse que Ele não era muito bom, pois a mulher que lhe explorava usava muito o nome dele para pedir e ainda dizia que Ele é que pagaria àquelas pessoas. Natalício não entendia, mas que esse Jesus devia ser muito feliz, isso sim, pois tinha uma estrela de luz só para ele. Jamais passaria fome.
Quanto mais Natalício ouvia a pregação mais se imaginava naquela cena. Já estava bem ali perto do menino, e imaginou pedindo um pouco de luz a Maria, e esta de repente, se parecia com sua mãe, a idealizada na escuridão dos seus olhos, mas na claridade de seu coração. Sentiu-se protegido e confortável e saciado, pela primeira vez na vida, nem que fosse na imaginação, pois como dissemos, os poetas e os cegos podem ver na escuridão.
Ali adormeceu Natalício, entre a pregação, o perfume do incenso e o ouro da capela, envolto em panos remendados. Ninguém notou.
Enquanto isso, a mulher deu em si, após acordar da bebedeira, e saiu a procurar desvairada por Natalício, seu ganha pão. E foi nas esquinas, nos botecos, nas sarjetas, sobre os papelões dos moradores das calçadas e das ruas, e nada. Nada de Natalício. Jamais pensaria em procurar numa capela. Mesmo assim, perguntando e perguntando, finalmente descobriu que ele havia entrado sem querer naquela igreja. A celebração já havia acabado e estavam fechando as portas, pois as pessoas iam para sua casa para a ceia do Natal... Ela tentou entrar, mas não havia lugar para ela. Perguntou ao porteiro pela criança, este disse não ter visto nenhuma criança cega, embora houvesse muitos mendigos. Depois de muito implorar, o homem permitiu que ela olhasse dentro, por alguns instantes. Nada.
A mulher não percebeu, mas no chão do cantinho da capela, uma poça de luz com uns panos dobrados, brilhava de maneira especial, com um leve odor de chocolate.

Assuero Gomes.


domingo, 27 de novembro de 2011

O Perdulário



O perdulário

Quem está por detrás de um país que esbanja seus recursos naturais, que desperdiça milhões de quilos de grãos e milhares de toneladas de hortifrutos de sua produção agrícola, jogadas às estradas do descaso, e que no mesmo movimento permite que suas crianças comam lixo disputando com cães e urubus as carnes podres?
Qual país que desmata continentes de florestas e chora porque perdeu uma partida de futebol? Quem assanha a sanha arrecadatória de tributos, que escorre nos ralos de imensos buracos negros da corrupção? Elejamos um personagem símbolo dentre tantos, verdes amarelos. Um daqueles nascidos ‘na barriga da miséria’, que com muita sorte e esforço consegue escapar de um destino severino. Envereda-se nos sinuosos caminhos da política, desde a escola, traz um discurso comprometido, traja uma roupa coerente, calça sandálias de caminhar. Com os ideais e a ideologia, carrega consigo um imenso, profundo e amargo sentimento de inferioridade. Segue sua trilha, e um entre mil, bafejado pela sorte, consegue algum cargo em alguma organização. Articula, cede, manipula, é manipulado, entra na dança do poder, é seduzido.
Agora o discurso precisa ser moldado à nova situação. As sandálias cedem ao cromo alemão. Os jeans surrados ao Armani. A mulher, companheira e camarada de tantas batalhas insones de noites de estômagos vazios, deve ser trocada por uma mais nova, bem mais nova, ‘apresentável’. Festas de representação com bebidas importadas, mordomos, imprensa, spots, flashes. Automóvel importado, motorista, segurança. O limite para o gasto, com o numerário alheio da arrecadação das taxas, impostos, contribuições, é o delírio de se olhar no espelho e se ver um poeta como Nero. O ego tão inflado, mas tão inflado, que quase sufoca o peso da inferioridade, que está dentro de si, e esta vai se exacerbando mais e mais, à medida em que ele tenta camuflá-la na ostentação. E assim o nosso patrício vai introjetando o poder (que não tem) dentro si de tal forma que é escravizado por ele. Vai perdendo a noção do custo, do valor e do preço das coisas. Sua alma acaba valendo menos que o pó sob o sapato que usa e sua palavra menos que a água suja que escorre no esgoto.
Assim o nosso ‘herói’ vai atravessando a vida achando natural que tenha quarenta empregados sob suas ordens, que ganhe mil vezes mais que um assalariado, que se mate de morte violenta no seu país, mais que a população de duas cidades de porte médio, por ano, que se aumente a carga tributária e não se tenha escola digna, nem saúde pública, nem transporte, nem segurança nenhuma, para os filhos da pátria amada, mãe nem tão gentil.
Nem mesmo acha estranho que o Primeiro Ministro da Inglaterra lave seus próprio pratos e sua esposa passe as roupas de casa, e apronte os filhos para a escola, pública.

Assuero Gomes
Médico e escritor




sábado, 26 de novembro de 2011

O rio nosso de cada dia


Esse é o Danúbio, não o Capibaribe




O rio nosso de cada dia

Segue o rio Capibaribe lento, quase parando. Já não há capivaras nem índios nas suas margens, nem mansões e velhos sobrados dos senhores de engenho. Mas ele segue, lento, sonolento, o cão raivoso sem dentes e sem rouquidão. De suas margens a cidade anfíbia lega as palafitas, semimortas, não-cidadãs de Recife. Mas o rio segue, quase parando, quase morto. Segue com estrelas de noites enluaradas dentro de suas águas, com sonetos de insones amantes apaixonados por sinhazinhas, quais fantasmas de noites antigas de sonhos desfeitos.
Mais que estrelas e lua o rio segue lavando a cidade, carregando a sujeira para longe, suas garrafas plásticas e isopores bandidos, dejetos da falta de futuro e de civilidade de uma cidade que não é gentil com seus não-cidadãos. O rio segue como um cortejo fúnebre com caixões despedaçados de violência. Pelo menos um baobá assiste esse féretro, sem contar os flamboyants que choram lágrimas de sangue e as acácias com suas pétalas de sol.
Com quantos verões se faz um rio? Com quantos fios de rede se côa um rio?
O rio leva nossos sonhos, nossos encantos, mas deixa a esperança. A verde esperança de sobreviver. A esperança imortal que teimosamente vive no coração de cada um, torcendo por dias melhores. Dias de cidadania, dias civilizatórios. O rio não pode morrer. O rio não pode morrer, pois aos poucos morremos nós também. O rio não pode morrer. Repete o poeta em seus versos tristes, na sua barca quase náufraga, que desliza na lama encalhada de sobreviventes. O poeta navegante, sem gôndola veneziana vê o sol da rua se por sem brilho, ver o ocaso da aurora da rua, vê as pontes que já não unem, a detenção que já não detém, a Rita santa que pede esmola no cais, o Zé de coração mariano que sonha com Otília, o poeta vê também sombras de igrejas seculares com suas paredes descarnadas e acredita ouvir ladainhas de semanas santas remotas. Mas o rio é inexorável, às vezes pára, as vezes encalha, raras vezes transborda, já não causa espanto, já não se veste de musa, não encanta mais, mas segue, segue, pois o rio não pode morrer, ainda há os que sobrevivem dele, como o poeta na sua barcaça errante, em busca do passado, em busca da aurora, em busca do sol, em busca dos antigos e gentis saveiros, em busca do mar, pois todos sonham em ser mar.
Choram sua lama os esgotos no rio, choram as feridas da cidade, pois o que se tornou o Capibaribe senão uma imensa lágrima insossa de sua amante Recife?
Em memória do mestre Alcides Tedesco que agora navega o mar calmo da eternidade, banhado em luz.


Assuero Gomes


sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Ação de Graças





O bom Deus que faz chover sobre os ricos e os pobres, sobre os crentes e os incrédulos, que faz o sol brilhar a cada manhã sobre a metade da Terra inundando de luz as famílias e põe a Lua do outro lado para que a escuridão não reine em nenhum lugar do planeta; o bom Deus que acompanha os peregrinos nas suas viagens por mais tenebrosas que sejam, que não larga ao relento o indigente nem os doentes, receba hoje e sempre o reconhecimento de toda criatura, numa humilde e sincera ação de graças e que sua face permaneça eternamente voltada para nós. Amém!

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Lampião o Rei do cangaço

                                                            Lampião e Maria Bonita

Uma visão mais crítica e desapaixonada da história revela que Lampião não era nenhum herói nacional. Gostava muito de dinheiro e ostentação, fazia acordos com coronéis, matava de aluguel e não protegia os pobres tanto quanto nos querem fazer crer. Parece-me ser mais um mito criado para talvez termos um tipo de Che Guevara nordestino.
Triste país que precisa de heróis, muito menos os fabricados...

Assuero Gomes

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Mandalas




                                          "mandala da Harmonia Familiar" acrílico sob tela

As mandalas são representações circulares, geralmente coloridas, sobre as reviravoltas que a vida dá. Levadas ao extremos em delicadeza e arte pelos monges budistas, especialmente os tibetanos, que levam longo tempo as compondo, para em seguida desmancharem-nas.
Os cristãos devem sempre colocar Jesus (Yeshua) no centro de suas vidas familiares, e procurando seguir seus ensinamentos, vivenciarão a eternidade e a plenitude da vida!

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Zumbi tinha escravos



Eu sabia que Zumbi tinha várias mulheres enquanto outros negros no quilombo dos Palmares não tinham nenhuma. Soube há pouco que ele e alguns dirigentes compravam escravos e tinham para seu uso particular.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

errata

errata: a palavra "percebido" foi escrita de forma incorreta no texto abaixo, para o quê peço desculpas aos leitores e leitoras.

O Carnaval e o desfile das escolas de samba...

                                                           vai passar... Chico Buarque


      Uma coisa que não havia persebido e que foi colocada muito bem no livro "Guia politicamente incorreto da História do Brasil" de Leandro Narloch (Ed. Leya), o qual recomendo urgente leitura, é que a gênese do desfile das escolas de samba é algo altamente facista e militarizado.
O carnaval em si, tal qual o conhecemos em Pernambuco e nas suas origens também no Rio, é algo anárquico, uma catarse popular onde são extravasados os anseios e instintos reprimidos durante todo um ano, durante quatro ou mais dias.
Acontece que no Estado Novo de Getúlio "organizou-se" de tal modo essa desordem coletiva e atendendo à necessidade paranoica de se estabelecer uma "identidade nacional" ainda com reflexos na Semana de Arte de São Paulo, que de uma forma um tanto quanto original para os padrões internacionais, militarizou-se o desfile.Uma ordem rígida pré-estabelecida, temas de exaltação nacionalistas, tempo cronometrado como nos desfiles cívicos de 7 de Setembro, rigorismo nas marcações de cadência, tema, uniformes (fantasias), carros alegóricos (infantaria?), etc...
Nunca gostei desses desfiles, acho insuportável de um mau gosto incrível, repetitivo igual a uma corrida de Fórmula 1, e agora, sabendo as origens...
O gênio de Chico foi quem melhor captou e transmitiu a essência de tudo isso, na sua imortal "Vai passar..." resta perguntar quando?
Assuero. 

domingo, 20 de novembro de 2011

O Poço e a Fonte




O Poço e a Fonte

O poço assegura a vida da comunidade. Nele vieram beber os antepassados dos antepassados. Ele é perene, quase eterno. Mata a sede toda vez que lho procuram. A vila é construída ao redor dele. É um lugar guardado com segurança. O poço representa a estabilidade, a organização imutável da comunidade. Ao redor dele os anciãos conversam suas histórias de geração em geração, lá as crianças aprendem a respeitar e perpetuar a tradição. O poço é sagrado, por isso precisa ser bem protegido e vigiado, nada pode ameaçar sua existência. Ele representa a instituição que assegura a continuidade da vila. O que seria da vida sem a água do poço?
É bem verdade que a água é parada, mas é segura. Ninguém ousou jamais sair da vila sem carregar a sua água em recipientes hermeticamente fechados, para não contaminarem o precioso carregamento. Ao redor da vila há um deserto e no deserto ninguém vive. Sobrevive apenas quem estiver com a água do poço.
É bem verdade também, que matar a sede com a água do poço requer trabalho e sacrifício. A roldana, a corda, o balde, o cantil, o peso, a aspereza da corda, a dor nas costas, a retirada da água é cada vez mais funda, mais sacrificada, mais pesada. É a rotina do sofrimento que garante a sobrevida da vila. Com o esforço para retirar-se a água do poço a sede volta logo e logo estamos tirando mais água e a sede aumentando num moto contínuo. É a vida nossa, foi a de nossos pais e a de nossos avós. Certamente será a dos nossos filhos e netos, pois o poço parece eterno, a vila parece eterna, o deserto é eterno e imutável. O rito de retirar e utilizar a água do poço deve ser seguido sem alteração, pois ela pode secar um dia. Será? Deve ser usada com parcimônia e bem distribuída esta preciosa água de nossos avós. O poço é fundo, chega às nossas raízes, nesta terra onde repousam os ossos dos nossos ancestrais. Deve ser cercado e controlado.
Mas Jesus é Fonte. A fonte é diferente. Ela brota, ela jorra. É água e água em abundância. Para todos, sem fronteiras, sem cercas. Não respeita o deserto, ao contrário, ela o invade, o destrói e em seu lugar faz brotar um jardim e pomares, onde os pássaros de Deus vêm fazer seus ninhos. A fonte não tem controle. Não respeita os limites da vila nem os ritos para apanhar sua água. É singela e límpida. Não se limita às  instituições nem a seus instituídos, pois jorra à flor da terra para quem quiser beber, a qualquer hora, dia e noite, sem filas e sem favores, sem tradições, sem limites. E sua água escorre por entre ruas e vielas, abre caminhos, alarga as margens, subverte os muros e as grades, rompendo-os. E vai se alargando no horizonte. Daqui a pouco será riachos, será rios, será oceano. A aridez dos ossos ressequidos será revolvida, na terra, agora úmida, agora fértil, e a tradição enterrada será brotada em vida, como adubo. E fertilizará os campos e haverá trigo e haverá uva, e as abelhas farão córregos de mel e as ovelhas verterão leite das encostas, e haverá pão distribuído em fraternidades e vinho em abundância, e os pobres se alegrarão e farão refeição, pois a água viva é para todos os povos, todas as vilas e todas as nações.
Num dia claro de sol, sobre a relva e a brisa suave, os homens e as mulheres e as crianças de todos os lugares festejarão, alegres, a água da fonte repartida em pão, luz e alegria, tranquilos, e já não pensarão mais no poço, pois a água que jorra de Jesus terá inundado de claridade todos os poços da Terra.

Assuero Gomes
Médico e Escritor

sábado, 19 de novembro de 2011

Igreja Nova



                                                                     Igreja Nova

Nas mais antigas e melhores terras de Pernambuco, tomadas por el rei em retaliação pelas nossas lutas libertárias, terra de Zumbi e Calabar, mulato que “sabe dos caminhos que ninguém ensina, em que pântanos beber, em que rios percorrer e das fontes”, existem algumas lagoas, três na verdade. Belas, silenciosas e brilhantes de sol.
Imaginei, submersa, uma igreja, de 2000 anos. Imaginei pescadores, negros, índios, pobres, jogando a rede do lado direito da barca de Pedro e achando-a submersa, qual arqueólogos caboclos.
Maravilhados descobriram a igreja.
Imagino-os formando um grupo, uma comunidade primordial de antigos pescadores que atenderam o chamado do Mestre, para restaurar e erigir a igreja. E assim foram mergulhando em águas mais profundas a cada vez, e entravam e saíam da pequena igreja submersa, escondida desde os tempos. E começaram a retirar-lhe os entulhos, os códigos, as palmatórias e os chicotes, as algemas e os pelourinhos. E aquela pequena comunidade de homens simples, foi notando que a pequena capela começava a flutuar. Não souberam ao certo se era impressão, se era insolação ou se a lagoa estava secando, mas a verdade é que com o trabalho e a fé deles, já se podia vislumbrar a cruz no cimo da construção.
Resolveram então, tudo de comum acordo e após as orações, retirar os adornos de dentro. Havia alguns objetos de ouro e prata, como turíbulos, ostensórios, um cajado incrustado com pedras preciosas. Venderam tudo e compraram comida e remédios para as suas famílias e o que sobrou repartiram com toda a vila. A igreja ficou tão mais leve, tão mais leve, que mais da metade do seu corpo já estava banhado pelo sol.
Quem passasse apressado pela ponte por cima da lagoa, talvez nem notasse bem, mas já estava visível aquela construção nascida das águas. Quem descesse até onde os pobres moravam poderia admirar este milagre do trabalho, da fé e da perseverança. Os peixes, os siris, passeavam tranqüilos por entre as janelas e as portas, e se quietavam em frente ao altar, que estava enfeitado com flores aquáticas.
O trabalho da comunidade continuou. Retiraram a lama, o lodo, a sujeira acumulada durante séculos. Retiraram da igreja a culpa, os castigos, as proibições e os interditos. Soltaram-lhes as amarras subterrâneas, os espinhos escondidos, as cordas, as âncoras.
Não se sabe bem precisar porque, nem como, mas um belo dia, a igreja flutuou. Leve, serena como uma jangada. Libertada pelos pobres, ela emergiu e agora é uma igreja itinerante. Uma bela igreja nova. No seu interior os pássaros vêm fazer seus ninhos, os homens e as mulheres se fartam de peixe e pão e já não há donos nem senhores. Qualquer tentativa de amarrá-la ou possuí-la lhe será fatal, por afogamento. Seu equilíbrio depende do equilíbrio das relações humanas mediadas por Deus.
Os poetas e talvez os físicos quânticos acreditam que a água é luz, que sol é luz, que vida é luz, que a poesia é luz e que o tempo é um pingo de luz da eternidade. Acredito que esta igreja flutua e é banhada pela luz de Deus que emana dos pobres. Acredito que dentro da lagoa que existe em cada um de nós, existe uma construção de fé. Acredito na fraternidade humana e que através dela possamos descobrir a igrejinha, ou capela, ou santuário, ou mesquita, ou sinagoga que está ali, e juntos desfrutarmos de uma bela e eterna manhã de sol.
Um Natal comprometido com as descobertas interiores e comunitárias, para todos e todas.


Assuero Gomes
assuerogomes@terra.com.br

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A emergência do Inferno






A emergência do Inferno

Imagine-se por um instante numa noite tenebrosa de sábado na cidade do Recife. Um dos numerosos acidentados de motocicleta no trânsito macabro procurando a emergência de um hospital público de grande porte, qualquer um. Atendido pelo SAMU, de maneira eficiente, tanto em rapidez quanto em qualidade técnica.
Imagine-se chegando entre dores e pânico no hospital de referência, o maior do Nordeste. Fraturas múltiplas, quase amputação de membro inferior. Para cirurgia imediata.
Imagine-se agora na pele, no corpo, na mente, na alma e no jaleco do único traumatologista da noite. Escala de plantão incompleta, onde deveria haver cinco só há você. Há algum tempo você trabalha sozinho nesta noite tenebrosa de uma cidade sombria. Não contrataram os concursados, outro desistiu pela situação extrema de estresse. Você tem que atender os doentes graves amontoados em macas e chão no corredor. Você não tem o que comer de madrugada, nem onde comprar, a cozinha e copa fechadas, proibido entrar alimentos de fora, as precárias barracas da calçada foram demolidas.
Você como paciente talvez grite, talvez esteja aturdido, talvez nem escute mais, nem sinta mais...você como médico tem que subir para operar, tem que atender, tem que escolher. Avatares de azul rondam sua pessoa como zumbis, de caderneta e caneta em punho, anotando seus passos, seus horários, dando ordens, sem mesmo serem arremedos de médicos, apenas fantasmas públicos travestidos de azul.
Sua perna já não sente, já não sente você. Você se confunde na dor, será o médico, será o paciente? Quem você se tornou?
Os avatares tomam nota. Ligam para o diretor médico. Mandem o doutor subir para operar, mesmo sem equipe. O inferno não pode parar. Mandem dar alta aos pacientes do chão, do corredor, da morte. Os avatares ligam para o diretor administrativo. Suspendam o estacionamento do médico. Anotem a hora da entrada, da saída, do sanitário, não deixem descansar, são 12 horas seguidas de olhos abertos sem piscar, sem beber água e sem comer.
Deitam e rolam os senhores do inferno, queimando entre suas brasas os depoimentos, as estatísticas, os processos contra assédio moral. O inferno não pode parar, assim como o circo e seu espetáculo público privado. Vistam o médico de demônio, e mostrem que o serviço público é mesmo o Inferno, que Dante coraria de vergonha.
Sobe o paciente, sobe o médico, sobem e sobem. O relógio não passa, as macas não passam, a dor não passa, nem as sirenes do SAMU que eficientemente trazem os pacientes do chão sangrento desta cidade de Lynch, ou das UPAS. Na verdade estão chegando mais vivos, quase mortos, mas vivos. Morrem os médicos, o serviço público, os avatares já estão mortos, como lavadores de almas.
Finalmente surge o dia, com seus primeiros raios de domingo. O paciente respira. Tem apenas 17 anos. Está operado. Bem operado. Vai salvar sua vida, sua perna, seus ossos. O médico olha o relógio, tão devagar, tão devagar. Veste seu jaleco enquanto espera seu rendeiro, que está lá embaixo, procurando estacionar, sem estacionamento. E a vida continua, vencendo a morte, às vezes, nas grandes emergências do Recife.

Assuero Gomes
Médico e escritor

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

“Tenho teu coração diante de mim, não te aflijas”

                              



                                         “Tenho teu coração diante de mim, não te aflijas”

E foi com o espírito combalido de tanta doença sobre si que o pobre sacerdote se prostrou com um derradeiro suspiro, procurando alívio, em frente a uma imagem de Maria.
A dificuldade de caminhar, o cansaço, o desconforto em respirar, as dores crônicas nas pernas que às vezes se exacerbavam insuportavelmente, oprimia o sacerdote.
Caminhar era difícil, falar mais ainda.
Refletia sobre o sofrimento humano, sem encontrar resposta convincente para si mesmo, como poderia reconfortar os enfermos? Ele mesmo se sentia enfermo e não estava encontrando consolo.
Naquele cair de tarde entrou quase em desespero. Lembrou de Elias quando estava desistindo de sua missão e pediu para que Deus providenciasse sua morte, ao que o próprio Deus enviou um anjo com um pedaço de pão e o mandou continuar. Talvez, quem sabe, o padre esperasse um anjo, um aviso, um sinal, um conforto. No íntimo, no íntimo mesmo ele não acreditava muito em anjos, visões, sinais miraculosos e outras coisas mais da nossa prática religiosa.
Deixou o corpo cair ajoelhado e os músculos relaxaram. A visão embaçou um pouco. A respiração também (a respiração pode embaçar a vida das pessoas).
Fez uma revisão de vida. O Seminário Menor o qual adentrou muito cedo, a despedida prematura do convívio familiar, as regras de observância um tanto rígidas, a dedicação aos pobres e os conflitos que teve que superar, de várias origens, sociais, políticos e até eclesiais.
Agora o que restava daquele jovem determinado que atravessou mares e sobreviveu a marés?
Maria parecia indiferente à sua reflexão.
Saindo então da genuflexão, sentou-se. Frente a frente, olho no olho, suplicantes olhos de sofredor peregrino.
Silêncio apenas, silêncio.
Nem um vento súbito, nem um raiozinho de luz, nem uma folha morta se arrastando, nem um besouro zunindo, nada, nada. O ambiente mergulhara na penumbra e no silêncio absoluto, e absorveu o nosso sacerdote, de tal maneira que quem passasse por ali, mesmo olhando não o veria.
Lembrou, como uma última lembrança, que todas as pessoas que se aproximaram de Jesus, segundo o relato dos evangelhos, foi por causa de uma doença ou sofrimento e um pedido de cura, e que através desse encontro mudaram suas vidas para sempre. Isso paradoxalmente o atormentou mais ainda, pois estava diariamente com Jesus no serviço aos pobres e na Eucaristia, sabia que Jesus sabia de sua aflição, portanto, então, ele não seria digno de receber uma graça que o aliviasse um pouco. Triste e pesaroso foi se levantando para se recolher.  Nesse momento olhou para a imagem e percebeu como uma voz dentro de si dizendo suavemente: “Não te aflijas, pois tenho o teu coração diante de mim”.

Assuero Gomes




quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Uma Nação corrompida








Uma Nação corrompida

Uma pessoa, no tempo de Jesus, era considerada legalmente morta, após o quarto dia. Daí a visita do mestre à casa do amigo Lázaro, no quarto dia de seu falecimento, ter sido achada muito tardia por parte dos familiares.
Era considerada oficialmente morta uma pessoa após o quarto dia, porque seu rosto estava já em processo de decomposição e se tornava irreconhecível. Sua identidade estava irremediavelmente perdida, era um cadáver (carne dada aos vermes). Daí o pavor à corrupção dos mortos, como algo inexplicável e não compatível com o projeto de Deus, de vida plena. Corrupção dos corpos é a síntese entranhada da morte. Daí também os antigos povos tentarem mumificar os corpos, para preservar a identidade do morto e, portanto, seu significado no nosso mundo. Daí a Igreja, num costume bem antigo, pensar em sinal de santidade àqueles corpos preservados após anos e anos de sua morte.
Uma pessoa representa sua nação. Uma nação representa seu cidadão. As instituições representam seus instituídos e vice e versa.
A corrupção entranhada visceralmente na nossa nação, em cada indivíduo e nas instituições é a causa primeira de nossa morte como um povo soberano. Muitos de nós brasileiros estamos vivendo em tumbas e entre túmulos, como o próprio Lázaro.
Quando uma criança se alimenta de lixo e bebe água apodrecida, quando não vai à escola regularmente nem brinca pacificamente como outra qualquer, quando os jovens são absorvidos pela droga e o crime, quando quem deveria zelar pela integridade dos filhos da pátria está corrompido até seu âmago, quando se dilapida o suor e o sangue do trabalhador em propinas e desvios obscuros, se cava mais profunda ainda a própria sepultura da nação.
O Brasil está decompondo sua própria face perante o restante do mundo, a nossa face, a face de cada um, que juntas formam a identidade nacional. Toneladas de maquiagem midiática se consomem para mascarar o defunto, mas seu odor já se espalha. Não adianta copas, nem olimpíadas, nem shows de samba e mulheres nuas, nem arroubos de performances políticas, pois a nação está corrompida. Crianças são ensinadas pelos pais (quando os têm) a ter vantagem sobre os colegas, meios de comunicação ensinam modelos estranhos de comportamento, alunos agridem professores, adultos subornam, idosos são maltratados, a saúde pública é aviltada pelo descaso do governo, e tudo se transforma num grande e triste e grotesco baile funk verde e amarelo.
Talvez não estejamos no quarto dia, talvez o mestre venha a nos visitar e nos converta (metanoia), e nos anime a retirar a pedra do sepulcro e desenfaixar o nosso povo para que se levante e ande com suas próprias pernas, para bem longe da morte.

Assuero Gomes
HTTP://assuerogomes.blogspot.com/

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Budapest











                                                                           Budapest




Belíssima cidade. Grandiosa. Majestosa. Imperial. São alguns adjetivos para se tentar traduzir o encanto de tamanha beleza, que de tão bela nos coloca minúsculos. Esplendorosa.
Capital do país húngaro, ficou mais conhecida dos brasileiros após o livro homônimo de Chico Buarque e posteriormente do filme (que não a retrata com fidelidade pois as imagens estão sujeitadas ao texto da narrativa do livro).
Ainda há o encanto da língua Magyar, uma das mais difíceis da humanidade, quase um código secreto entre os húngaros. Seu encanto pode ser aprecido na sonoridade, melodia e harmonia da pronúncia.

Assuero Gomes

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

D. Helder - Calendário do Instituto



Todo ano, o Instituto D. Helder Camara (IDHEC) lança o calendário do Instituto com fotos e pensamentos do Dom. Desta vez será em referência aos 50 anos do Concílio Vaticano II, que teve em D. Helder seu grande articulador e deu à Igreja uma oportunidade de se voltar às raízes e fazer sua opção para os Pobres.
A introdução do calendário foi feita pelo Pe. João Pubben, que o acompanhou no dia a dia por longos anos.
Os interessados em adquirir o calendário podem entrar em contato com Bete pelo end. eletrônico: bete@elogica.com.br  . Um ótimo presente de natal.



APRESENTAÇÃO DO CALENDÁRIO 2012 DO INSTITUTO DOM HELDER CAMARA


Irmã, Irmão,

PAZ e ALEGRIA !

Há 50 anos, entre 11 de outubro de 1962 e 8 de dezembro de 1965, aconteceu em Roma o Concílio Vaticano II, grande encontro – em quatro sessões – de todos os bispos do Mundo inteiro sob a presidência dos papas João XXIII que o convocou e iniciou e Paulo VI que o continuou e encerrou.

Dom Helder foi um dos participantes mais ativos e criativos deste acontecimento histórico que proclama que a Igreja é o Povo de Deus e que ela existe para o bem da Humanidade, a fim de que todos possam ter Vida.

O calendário 2012 do Instituto Dom Helder Camara (IDHeC) apresenta pensamentos do Dom, tirados das circulares que ele – durante esse Concílio – escrevia diariamente para seus amigos e colaboradores mais próximos no Rio de Janeiro e no Recife. Essas cartas fraternas foram editadas no volume I – em três tomos – da Coleção de suas Obras Completas. Trata-se de um documento precioso que mostra mui claramente como o Dom vivia e batalhava em favor de uma Igreja pobre e servidora e de um Mundo humano e justo.

Os sonhos de Helder Camara continuam aguardando sua concretização.

Que uma autêntica comemoração do cinquentenário do Concílio Vaticano II faça muitos cristãos e muitas pessoas de boa vontade se colocar em marcha...


joão pubben

Dois Unidos, 1º de outubro de 2011

domingo, 13 de novembro de 2011

Liberdade para os médicos e médicas do nosso país

                               








                                       Liberdade para os médicos e médicas do nosso país

Pelo tamanho da reação: “a Secretaria de Direito Econômico (SDE), vinculada ao Ministério da Justiça, em vista do movimento médico deflagrado em 7 de abril de 2011, encaminhou ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) nota técnica recomendando a condenação do Conselho Federal de Medicina, da Associação Médica Brasileira e da Federação Nacional dos Médicos, bem como a adoção de Medidas Preventivas”, a força da classe se manifesta.
É um momento ímpar na história da luta por relações mais justas de trabalho com as operadoras de planos de saúde. É um momento de tal importância que não devemos deixá-lo passar sem uma reflexão profunda e rápida, antes que a conjuntura se desfaça, distorcida por forças obscuras que querem manter o nível de intermediação/exploração do trabalho médico.
Só é explorado quem quer. Quem precisa de plano de saúde não é o médico, mas o dono, que fica cada vez mais rico. Quem precisa do médico é o paciente e também o dono do plano de saúde.
É hora, e mais que nunca, de pedirmos o descredenciamento. Atendermos ou por nossas cooperativas ou diretamente com o paciente, que deverá utilizar seu plano de saúde para o ressarcimento do valor da consulta e também para realização de exames complementares, internamentos hospitalares, custos de procedimentos, etc... Mas para o trabalho médico, não.
É hora de darmos um basta. Não somos obrigados a sermos explorados, se o somos é porque permitimos.
A crueldade da exploração do homem pelo homem ou por instituições que vivem do trabalho alheio, é que ela introjeta o modelo do explorador na alma do explorado, tornando-o um verdadeiro escravo de sua própria condição, então o trabalho ao invés de se tornar um processo de libertação da humanidade passa a ser a própria perpetuação da sua condição de escravo. Um explorado reproduz o modelo do seu explorador em outro ser humano mais fraco e este por sua vez no próximo, numa cadeia cruel e perpétua.
Um médico ou uma médica que não pode se dispensar de “ganhar” R$ 20,00 ou R$ 30,00 por uma consulta de convênio, ou tem medo de perder, tem que repensar se realmente é um médico ou uma médica.
O trabalho humano muda o mundo, embora mantenha a natureza (no seu conceito filosófico, pois a mutabilidade é inerente à própria natureza) que é imutável, mas o trabalho também modifica o trabalhador que o executa, no íntimo do seu ser. São modificações permanentes, que em cadeia, interagem entre todas as manifestações de vida, pois tudo é interligado entre si. Só podemos amparar a vida se nosso trabalho nos proporciona vida.

Assuero Gomes