Visitantes

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Ano Novo, velho...




                                                                          Olinda



Ano Novo, velho...

Onde está o menino que queria mudar o mundo com sua poesia e com suas tintas, como se o mundo fora uma tela virgem? Vestiram-no com uma roupa, cada vez mais apertada, de cinqüenta anos, que muitas vezes o sufoca e o imobiliza. Roupa de convenções, recepções, missas fúnebres e solenidades.
A roupa, como o esqueleto externo dos crustáceos, torna os passos lentos e doloridos, turva a visão, restringe a mobilidade do menino que colhia estrelas nas noites de verão e ia beber da fonte clara da lua, em horas e mais horas alegres e incansáveis.
Sobre a veste colocaram os escombros de um sonho socialista, corroído nas suas ferragens íntimas, pela corrupção. Não satisfeita, a roupa se revestiu com armaduras eletrônicas e vidros blindados e muros altos e grades elétricas numa vã tentativa de fugir da violência.
O que antes se celebrava, a libertação em comunidades de fé, hoje se restringe ao rito, às obrigações e à prisão da culpa, do pecado e da intolerância.
Está na hora de romper a roupa e suas armaduras e deixar livre o menino para que não entreve o homem, para que lhe devolva a visão e a poesia, que retome seus passos ágeis e sua crença num mundo que vale a pena.
Está na hora do menino ensinar ao adulto a empunhar novamente as bandeiras das utopias rotas, está mais que na hora de se tentar reconstruir o ideário de uma sociedade mais justa e fraterna, e voltar a acreditar que o lucro não é Deus nem o mercado sua igreja, nem o neoliberalismo sua religião.
O homem tenta dominar o tempo colocando sobre ele roupagens e etiquetas de horas, minutos, dias e meses, anos e séculos e milênios, pura tentativa! Quanto mais tenta, mais prisioneiro fica e quem veste estas roupas é o próprio homem, e angustiado vê o tempo passando, imobilizado na sua própria armadilha, cada vez mais rápido e mais precoce. O menino, ao contrário, brinca com o tempo, como se eterno fosse, e no seu brincar liberta sonhos, música, poesia, dança e harmonia, com isso ele equilibra o mundo interior e o mundo ao seu redor, conseguindo a tão almejada paz. Da harmonia das necessidades satisfeitas nasce a paz, que é filha da justiça.
Apesar da beleza fugaz dos brilhos das festas de cada ano findo, devemos nos encantar muito mais na procura da criança interior, que jamais morre e jamais envelhece, e quando o tempo desbotar nossa roupa, ao final da nossa tarde, devemos estar de corações atentos para escutar a fala sutil de uma eterna criança: é ano novo, velho é apenas o mundo inventado.
É hora, que é apenas uma etiqueta do tempo, de voltar a pensar nas coisas da eternidade e não deixar que elas passem por nós sem que as percebamos, é hora de nos deixar inebriar pela doce fragrância da amizade verdadeira, pela força de uma religião comprometida com a justiça e a fraternidade, pela segurança da honradez, da honestidade, da sinceridade, pela emoção do por do sol, que é um poema escrito a cada fim de tarde pelo Criador, enfim, é hora de deixar se guiar pela criança do seu coração.
Um tempo sempre novo para todos os que partilham seu tempo lendo as palavras que escrevo, de coração.

Assuero Gomes




Nenhum comentário:

Postar um comentário