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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Quem cuidará de Pedrinho?


Quem cuidará de Pedrinho?

Dia 27 de julho, comemoramos o dia do pediatra, a cada ano. Uma reflexão sobre o mundo deste profissional, suas crianças e os pais delas, antes que elas naveguem para sempre no mundo dos adultos, antes que as famílias, como as concebemos, se dissolvam no torvelinho da vida moderna, antes que se forem os avós e já não existam mais avós.
Com os casais se separando prematuramente, se é que se há tempo maduro para se separar, os filhos estão sendo criados pelos avós. Os casais, que sem vocação alguma para o matrimônio, geram filhos e os colocam no mundo, numa visão egocêntrica, nada mais suportam, nada mais relevam em favor do bem comum da vida do casal, nada mais perdoam um do outro, sempre, sempre estão se separando para tentarem novas aventuras, com novos parceiros, e seus filhos deixam aos cuidados dos avós, que depois de toda uma vida dedicada a cuidar dos filhos, passam a cuidar dos netos. Essa geração ainda tem avós. Temo o que será para os filhos desses filhos, que terão as suas referências familiares mais fragmentadas ainda. Não mais sentarão às mesas aos domingos junto às suas famílias, primos e tios serão estranhos, e os avós que terão as suas partidas precoces como pais de duas gerações. Quem cuidará de Pedrinho?
Um dos grandes referenciais para as crianças, além de seus pais e avós, somos nós, seus pediatras. Arredios no início, desenvolvem conosco um relacionamento de confiança e admiração, chegando a pedir, ao menor contratempo ou arranhão, que os levem até nós. Não é à toa que a grande aspiração profissional das crianças, durante uma das fases de sua vida, é ser médico e ser pediatra, igual “ao tio”.
Um fenômeno triste e também desagregador para as referências pessoais formativas das crianças, é a falta de interesse dos jovens médicos por esta especialidade e muito menos em manter um consultório privado. As causas são óbvias e cruéis.
Dentre as especialidades médicas, a de menor remuneração é sem dúvida alguma a pediatria. Acresce-se a isso, a infame carga tributária para se manter um consultório, as enormes despesas com aluguel, energia, telefone, funcionários, obrigações sociais, condomínio. Os convênios com seu mísero valor de consulta, e ainda a ANS exigindo mudança de formulários, papéis e mais papéis, burocracia sem fim, onerando mais ainda nossa atividade. Querem taxar nossas balanças de pesar crianças como se de mercadoria de supermercado ou feira livre fossem. Exigem agora que compremos computador, com softwares caros, impressoras e demais acessórios além de termos de qualificar em informática nossas funcionárias, tudo para se obter um opressivo controle sobre nós e nossos pacientes, e para facilitar a vida das operadoras de saúde e do fisco.
A maioria dos colegas está fechando seus consultórios, muitos indo trabalhar em ambulatórios no serviço público e outros em plantões de hospitais. Está chegando ao fim o pediatra que acompanhava Pedrinho desde seus primeiros dias neste mundo de Deus, na sala de parto, seu primeiro choro, suas primeiras quedas, suas primeiras lágrimas, seu primeiro sorriso, a preparação para seu primeiro dia de aula, suas gripes e peculiaridades, seus primeiros dentes, o início de sua puberdade, que o aconselhava, que o tinha como a um filho. Hoje ele é atendido por “estranhos” de plantão em plantão.
Pedrinho está sem referências. Seus pais já não se falam. O pai está noutro estado com uma nova mulher e outros filhos. Sua mãe trabalhando em dois empregos e fazendo um curso à noite. Pedrinho passa o dia na escola, à noite, sonolento o levam para casa onde uma babá o espera para pô-lo na cama. Seu pediatra fechou o consultório. Quem cuidará de Pedrinho?

Assuero Gomes

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