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domingo, 30 de dezembro de 2012

Ano Novo

Todo ano é novo quando o fazemos de novo. Um novo tempo a cada momento, em cada instante em cada esquina da vida, em cada tempo, pois há um tempo de arar, semear, e colher como nos ensina a Palavra.
Que esse novo tempo que se aproxima nos aproxime cada vez mais!
Paz e bem!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Uma mensagem de Natal


Uma mensagem de Natal
 
 
Acreditar num Deus que se esvai em sangue e dor dependurado numa cruz, um Deus se apresenta menino recém-nascido numa noite estrelada entre os pobres, um Deus que se faz vinho e pão, é ter certeza que o impossível é a possibilidade de Deus e que não estamos sós mesmo nas noites mais escuras de nossas vidas e nos dias mais luminosos.

Paz e alegria para todos os irmãos e irmãs que conseguimos agregar na caminhada de nossas vidas rumo a Belém, a Casa do Pão.

 

Assuero

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

D. helder e o Tempo...


 
 
 
 
D. Helder e o tempo....

Como será que o Dom está enxergando o tempo lá da eternidade, onde não há tempo? Lá de onde tudo está realizado na perfeição da felicidade plena, profunda e luminosa, onde não há choro nem lágrimas, onde as paralelas se encontraram, onde as mágoas se diluíram, onde o cordeirinho brinca com o leão.

Caminha o Dom pisando delicado por sobre as estrelas do manto de Maria, nos trigais eternos com Francisco, na companhia de seu anjo José?

Enquanto a saudade campeia em nossos corações podemos saborear gotas do mel de sua presença, talvez salpicadas da eternidade e já escritas antes da partida. O poeta derrama seus versos sobre nós como uma chuva benfazeja, a mitigar a aridez da ausência.

Oferecemos a você meu irmão, minha irmã, um pouco da água dessa fonte, para regar nossos dias nesse ano que se inicia, sob as bênçãos de D. Helder Camara, o eterno Dom de Olinda e Recife.

 

Assuero Gomes.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A última viagem do Elefante Cego


A última viagem do Elefante Cego
 
 

 

O condutor do Elefante Cego, como um pastor, chegou antes nos verdes prados. No seu passo lento o paquiderme, ensaiava a Cegueira, quando lia o Evangelho segundo Jesus Cristo, nos jardins do Convento, transformado em memorial.

Foi no ano da Morte de Ricardo Reis, quando este, pensando em estar singrando os mares de Camões, numa Jangada de Pedra, para escapar do Cerco de Lisboa, procurou a Terra do Pecado, mas esta na verdade era a própria Caverna, esta terra, onde se refugiou. Na sua estrutura pesada e tendo a cegueira como guia, foi imprescindível que o condutor com toda sua lucidez, Levantando do Chão, guiasse o elefante na sua última jornada.
 

No seu caminho, muito à frente do animal, o condutor recebeu pedras, em vez de diamantes, do seu irmão Caim. Seu irmão, sangue do seu sangue verde vermelho, que rasgando o Ensaio sobre a Lucidez, preferiu As Intermitências da Morte, e quis condenar o condutor a uma grande e medieval fogueira inquisitorial.

Escapando, para jogar mais luz sobre o elefante, tentando restituir-lhe a visão, foi refugiar-se em terras de Cervantes, onde teve boa acolhida, entre primos da casa ibérica, talvez na ilha de Sancho Pança, talvez nas páginas do Conto da Ilha Desconhecida, entre a aridez da terra e dos homens.

O pastor-condutor finalmente alçou vôo e desvencilhado do peso do seu rebanho de um único e pesado quadrúpede, mergulhou na luz.

Banhado em luz, livre de toda presença obscura, viu plenamente.

Levava na sua pequena valise os óculos grossos, que já não mais necessitava, as anotações de Lanzarote e suas Pequenas Memórias, em Apontamentos. Embevecido de luz lembrou da sua pequena Bagagem de Viajante, viajante Deste Mundo e do Outro. Trazia na lapela, com orgulho, um pequeno martelo e uma foice, tão carcomidos e desgastados pelo tempo, que quase não se via mais.

“Dar luz aos cegos é prerrogativa de Deus” disse-lhe uma voz feminina, doce e suave “Mesmo para aqueles que não acreditam Nele?” perguntou o pastor de elefante “Especialmente para aqueles que não acreditam Nele” “E o meu elefante, como caminhará na sua escuridão?” “O elefante é pesado e teimoso. Pensa que tudo pode devido à sua força e à sua tromba, mas caminha para o Abismo” “É porque é cego e não vê” “Ele não vê porque é cego, no entanto não sabe que é cego e pensa que vê” “Se Deus existe, por que fez ele cego?” “Ele não é cego de nascença, ele é cego porque pensa que vê e não sabe que é cego”.
 

Silencioso ficou o pastor, extasiado que estava com tanta luz, como bálsamo para seus olhos, que se mantinham enxutos. A voz feminina falou então “Entra, vamos ver e assistir aos ensaios de algumas peças” “Quais?” “Podes escolher, A Noite, Don Giovanni, Que farei com este Livro? E A Segunda Vida de Francisco de Assis, que agora mesmo a está ensaiando com Clara” “Como permitem que ensaiem essas peças aqui?” “Gostamos de toda Criação” “Posso ficar aqui vendo tudo?” “Aqui é sua casa. Aliás, aqui é a casa de todos os povos” “Já estiveste na minha casa do outro lado do mar?” “Sim, numa Viagem a Portugal. Desde então e sempre, nenhum filho desta terra fica fora da minha proteção”.

Para os que ficamos cavalgando o Elefante, talvez um pouco mais cegos que de costume, na despedida do último cavaleiro lusófono, Saramago.

 

Assuero Gomes


Escritor e Médico

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

D. Helder e o Pacto das Catacumbas

 

D. Helder e o Pacto das Catacumbas







Documentário sobre os 50 anos do Vaticano II, Tânia Kert, nos enviou o link. O foco em Dom Helder foi "Como ele viveu o Pacto das Catacumbas em Olinda e Recife".




http://mediathek.daserste.de/sendungen_a-z/799280_reportage-dokumentation/12577546_der-katakombenpakt-das-geheime-vermaechtnis-des

domingo, 2 de dezembro de 2012

O homem que comeu as cinzas de Ângela, sua mulher.


O homem que comeu as cinzas de Ângela, sua mulher.

 

Era um cirurgião plástico de renome. Começara sua vida na batalha do dia a dia para se manter e cursar seus estudos. Vindo do interior, família bastante pobre. Lances de vida curtos como essas frases. Uma sobrevivência a cada dia. Uma refeição a cada corte no dia.

Tinha uma pulsão erótica quase mórbida, mas contida. Sublimava a cada nova colega. Focado nas metas. Trabalho, estudo, profissão. Lazer confinado no desejo impossível.

Conhecera Ângela no início da faculdade. Pálida suavidade de brancura aristocrática. Alta e esguia. Troca de olhares e fluidos virtuais, destes que os poetas exalam. Consumação plena em lances curtos, como essas frases.

Casamento, pai médico renomado, como nos contos fictícios. Ficção prenha de realidade. Situação estabilizada. Vida com respiração mais pausada, como numa frase cheia de vírgulas e reticências. Eros mais afoito, mais solto, mais imperial.   

Foram passando, como numa leitura rápida de texto curto, colegas de trabalho, enfermeiras, técnicas, depois pacientes e acompanhantes.

Era dourada a vida como borbulhas de champanhe. Na taça não via Eros de mãos dadas com seu irmão Tanatos, a brincar com o destino dos mortais. E as frase ficando mais longa, mais longa, mais longa.....quase sem parágrafos. Era como se Cronos olvidasse a brincadeira dos Titãs com os meros mortais.

Ângela apareceu com um nódulo na mama esquerda, aquela do coração. Como um minúsculo ponto, numa frase que parecia eterna. Tantas mamas ele já fizera com maestria de um escultor renascentista, tantas mamas passaram por suas mãos e lábios e olhos. O que seria um ponto, que jamais pensado final, talvez na base da exclamação e se muito da interrogação, mas jamais final. Quisesse Deus uma vírgula, até mesmo um ponto e vírgula...

Um ponto é um ponto. Infinito na sua definição.

Ângela definhou. Apesar de todas as técnicas terapêuticas. E havia tantas ângelas na sua vida, que se foram, que estão e que viriam. Tantas exclamações que ainda galgaria!

Um dia triste, como usam ser nessas histórias tristes, cremaram Ângela. Uma bela e hostil cerimônia sem sentido. Sentiu-se patético e sozinho junto a tantos convidados e a tantas palavras sem assento.

No carro, ao seu lado, muda e surda as cinzas de Ângela num hermético vasilhame de metal polido. Trajeto estranho esse na sua última viagem com Ângela.

Garagem automática. Carro bem seguro. Casa imensa. Casa. Frases cada vez mais curtas. Entre o dia e a noite cada vez mais cinza. Despejaria Ângela no jardim. Mas antes, bem logo antes que ultimasse o gesto, abriu o utensílio e comeu as cinzas de Ângela.

 

Assuero Gomes

sábado, 1 de dezembro de 2012

A estátua recusada por D.Pedro II


Colaboração de Fabiano Costa 


 

Quam bonum est et quam jucundum, habitare fratres in unum.

Virgo Flos Carmeli, ora pro nobis!

 

 

 

A estátua recusada por D.Pedro II


E DIZER QUE JÁ TIVEMOS UM GOVERNANTE ASSIM!!




D. Pedro II dispensou estátua em sua homenagem para priorizar a construção de escolas públicas.


A motivação parecia das mais nobres: Pela vitória na guerra do Paraguai, nosso Imperador fazia jus a uma estátua. Melhor ainda: uma estátua feita com o bronze dos canhões do inimigo derrotado. A campanha foi lançada através do jornal Diário do Rio de Janeiro anunciada de acordo com os seguintes termos no dia 19 de março de 1870:

 

"[...] uma reunião em que se deliberou erigir uma estátua eqüestre ao Sr. D. Pedro 11, como o primeiro cidadão, pela constância e tenacidade que mostrou sempre na sustentação da luta contra o tirano do Paraguai, devendo o monumento ser fundido no país com o bronze das peças tomadas ao inimigo. "

 

D. Pedro II não esperou o dia seguinte para comentá-la. Em carta pública, causou surpresa geral ao rechaçar a homenagem em grande estilo:

"Si querem perpetuar a lembrança do quanto confiei no patriotismo dos brasileiros para o desagravo completo da honra nacional e prestígio do nome brasileiro [...] O senhor e seus predecessores sabem como sempre tenho falado no sentido de cuidarmos da educação pública, e nada me agradaria tanto a ver a nova era de paz firmada sobre conceitos de dignidade dos brasileiros começar por um grande ato de iniciativa deles ao bem da educação pública."

No Parlamento, a rejeição ao projeto da estátua chegou a ser criticada. Em maio, o senador José de Alencar (1829-1877) tratou o tema como uma ingerência do Imperador no Poder Legislativo, uma vez que já havia sido aprovado o financiamento para a elevação da imagem urbana. Nas sessões seguintes, porém, os parlamentares acompanharam a decisão do Imperador. O ministro do Império Paulino José Soares de Souza, por sua vez, manifestou na imprensa o apoio a Sua Majestade. Seu discurso alinhado com o Chefe de Estado reforçava a relação entre paz e progresso, este entendido como avanço “intelectual e moral da nação”. 

Para enfatizar suas prioridades, o Imperador lançou, naquele mesmo ano, as pedras fundamentais das primeiras escolas municipais do Rio de Janeiro, então Corte Imperial. Inauguradas em 1872, eram elas a Escola São Sebastião (posteriormente chamada Benjamin Constant e demolida em 1938 para a abertura da Avenida Presidente Vargas), localizada na freguesia de Santana, e a Escola São Cristóvão (depois chamada Gonçalves Dias), localizada no bairro de mesmo nome. Durante as décadas de 1870 e 1880, seriam criadas outras seis escolas municipais na cidade. O que não quer dizer que o imperador estivesse esbanjando recursos públicos: somente uma de todas essas escolas consumiu verba do Estado em sua construção, sendo as outras sete viabilizadas por contribuições particulares ou por subscrição pública. E sempre envolvidas pela solenidade imperial: D. Pedro II fazia questão de estar presente e participar tanto dos rituais de lançamento da pedra fundamental quanto das inaugurações.

Não seria exagero dizer que a mais recorrente representação do Brasil monárquico é a imagem de D. Pedro II.  No entanto, há poucas esculturas públicas do longevo imperador. Uma das peças mais conhecida pode ser considerada escultura abaixo

 


 

inaugurada em 1911 e que representa o Imperador de modo civil, numa postura contemplativa e serena, lembrando os retratos do liberal intelectual.

Curioso é que a imagem foi produzida não no período imperial, mas na primeira metade do século XX, numa evidente manifestação de saudosismo que se confunde com a identidade construída em torno da cidade de Petrópolis. Em 1925, por ocasião do centenário do nascimento de D. Pedro II, inaugurou-se um busto na estação ferroviária que leva seu nome (mais conhecida como Central do Brasil) e uma estátua no parque da Quinta da Boa Vista, em frente ao antigo Palácio Imperial, já então transformado pela República no Museu Nacional.

 

A ESTÁTUA RECUSADA

Assim, a escultura, que havia sido moldada em gesso por Francisco Manoel Chaves Pinheiro, em 1866,   nunca chegou a ser fundida em bronze. Mas graças ao trabalho de Conservação e Restauração do Museu Histórico Nacional e ao apoio financeiro de  sua  Associação de Amigos,  foi concluída em 1999 sua a restauração da monumental.

 


 

 

 

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Viva a Vida! Como cristão....


Viva a Vida! Como cristão....

 

Há que se ter alegria, embora a tristeza seja parte do caminho, há que se sofrer sem sentir dor muito grande, embora a dor seja parte do caminho. Há que se amar sobre todas as coisas e se sentir feliz consigo mesmo, mesmo que as falhas sejam muitas, mesmo que sejam pertinentes as críticas, pois amado somos acima de todas as criaturas. O próximo como a si mesmo, só darás o que tem, e o que tem é muito, pois tem o amor do Filho de Deus encarnado em si, e olha, que esse amor é infinito!

Viva a vida como se fosse o último dia, e o dia como se fosse o primeiro da eternidade.

Olha para o irmão próximo a você como se visse o próprio Jesus, dá de comer a ele se estiver com fome e de beber se estiver sedento, no entanto se aproxime dele com o cuidado que o amor exige. Se a cada dia basta sua cruz, a vida do cristão não deve ser pesada pois alguém já carregou a sua cruz e experimentou seus pregos e sua coroa perfurante.

O nosso lugar e nosso tempo é hoje, mas somos passageiros entranhados nas vidas de outros que se colocam em nossas vidas, ora ajudando, ora atrapalhando, mas sempre interagindo, numa cadeia sem fim, no presente, passado e futuro. Nosso tempo e nosso lugar definitivo não são aqui nem agora, mas quem os prepara, a nossa morada definitiva, é o necessitado, na medida em que cuidamos de sua morada aqui na Terra.

A vida do cristão deve ser feliz, leve, lúdica. Comprometida com os ideais de Jesus e com a certeza da Vida plena, muito acima de todo sofrimento ou dor, de qualquer amargura ou ressentimento, de qualquer inveja ou rancor.

Não se entende um cristão triste ou rabugento, mortificado, amarrado a leis ou tradições que não soergam os irmãos e as irmãs caídas. Não se entende um cristão que leva a vida a medir a punição e o castigo que deve sofrer o outro porque não cumpriu algum preceito.

Não é vida de cristão a vida de quem não serve.

Devemos nos lembrar sempre de que nosso Deus é um deus único, tremendo, majestoso, criador dos céus e da Terra, que colocou as estrelas e os outros corpos celestiais a bailar no céu do universo, que colocou em perfeita harmonia as partículas mais ínfimas da matéria e as galáxias, nu mesmo plano de fluidez e leveza, como num carrossel de parque de diversões; pois bem esse mesmo Deus se preocupa com que agasalho o mendigo vai se cobrir nas noites de relento, ou com o preso mais ignóbil que está trancafiado nas prisões e ninguém vai visitá-lo. É o mesmo Deus, que num momento de carinho extremo se fez pão. Fez-se pão. Fez-se PÃO.

Sejamos pão também para quem tem fome e fonte para quem tem sede, e alegria para quem está triste, e saúde para quem está doente, então veremos nossa luz brilhar, nos caminhos tortuosos e escuros nas vidas dos outros.

Viva a Vida!

 

Assuero Gomes

sábado, 24 de novembro de 2012

Filmes que você deve assistir antes de morrer: ALEXANDRIA

 

 

 

Filmes que você deve assistir antes de morrer:

 

ALEXANDRIA

O filme relata a história de Hipátia (Rachel Weisz), filósofa e professora em Alexandria, no Egito entre os anos 355 e 415 da nossa era. Única personagem feminina do filme, Hipátia ensina filosofia, matemática e astronomia na Escola de Alexandria, junto à Biblioteca. Resultante de uma cultura iniciada com Alexandre Magno, passando depois pela dominação romana, Alexandria é agitada por ideais religiosos diversos: o cristianismo, que passou de religião intolerada para religião intolerante, convive com o judaísmo e a cultura greco-romana.
Hipátia tem entre seus alunos Orestes, que a ama, sem ser correspondido, e Sinésius, adepto do cristianismo. Seu escravo Davus também a ama, secretamente. Hipátia não deseja casar-se, mas se dedica unicamente ao estudo, à filosofia, matemática, astronomia, e sua principal preocupação, no relato do filme, é com o movimento da terra em torno do sol.
Mediante os vários enfrentamentos entre cristãos, judeus e a cultura greco-romana, os cristãos se apoderam, aos poucos, da situação, e enquanto Orestes se torna prefeito e se mantém fiel ao seu amor, o ex-escravo Davus (que recebeu a alforria de Hipátia) se debate entre a fé cristã e a paixão. O líder cristão Cyril domina a cidade e encontra na ligação entre Orestes e Hipátia o ponto de fragilidade do poder romano, iniciando uma campanha de enfraquecimento da influência de Hipátia sobre o prefeito, usando as escrituras sagradas para acusá-la de ateísmo e bruxaria.
No filme a atriz Rachel Weisz interpreta uma pobre mulher que não compreende a origem de tanta raiva entre os homens e simplesmente tenta canalizar as suas energias para algo de bem. É impressionante como o filme capta a mais vil intolerância e opressão e é abismal a forma como ele denuncia o desprezo do Cristianismo pela condição feminina (o que me deixa ainda mais incrédulo com o simples fato de haver mulheres que conseguem ser cristãs na atualidade)
 
(comentário do Google)
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O filme é importante na medida em que ilumina um período inicial do domínio cristão sobre as outras manifestações religiosas e culturais e políticas. Com a  "conversão" do Império Romano, fato que prostituiu a Igreja na questão do poder em detrimento ao serviço. O filme aborda a questão do conhecimento livre, da igualdade entre os gêneros, da intolerância religiosa, das ações históricas de alguns canonizados pela Igreja e também mostra que o verdadeiro FAROL de Alexandria era sua biblioteca, um farol para o mundo e uma melancólica saudade para os homens e as mulheres de hoje que querem se libertar através da sabedoria.
 
Assuero

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Os sete pecados do Capital


                                                
 
 
 
 
Os sete pecados do Capital

 

Durante a antiguidade, especialmente na época de ouro da Grécia alguns “defeitos” ou fraquezas humanas foram elencados e posteriormente classificados pela Igreja como “pecados” ou vícios, que prejudicariam a vida dos homens e das mulheres. Seriam eles: a Gula, a Avareza, a Luxúria, a Ira, a Inveja, a Preguiça e a Vaidade (ou Orgulho, ou Soberba).

Tive a alegria, e por que não dizer, a felicidade, de ver uma belíssima pintura antiga de Hieronymus Bosch (1450-1516), no Museo deo Prado em Madrid, a qual admiro desde a adolescência, que retrata de forma magistral esses “sete pecados”.

Para contrapor a essas sete fraquezas, a Igreja orientou seus fiéis a buscarem sete virtudes sagradas, nesse contraponto: Temperança, Generosidade, Castidade, Paciência, Caridade, Diligência e a Humildade.

É evidente que a moderna ciência nas áreas da biologia, medicina, filosofia, psicologia, sociologia e teologia, tem um olhar muito mais abrangente que se tinha na Idade Média. Muitos desses “pecados” podem e devem ser avaliados à luz dessas áreas de conhecimento humano.

No título desse artigo propositalmente refiro-me aos sete pecados capitais, como “do Capital” para que possamos ter uma chave de leitura baseada na sociedade moderna.

Apesar de todo esforço da Igreja e de seus teólogos mais eminentes como Agostinho e Tomás de Aquino, e de sua catequese tridentina maniqueísta e ainda de sua ameaça com as chamas eternas de um Inferno claudicante ou de um Purgatório extremamente prolongado, os sete pecados estão vencendo as virtudes.

No mundo atual pós-moderno, onde Deus passa a ser “algo” indiferente para grande parcela da população intelectualmente mais desenvolvida, especialmente na Europa, e onde o capital chega a ser adorado em verdadeiro culto de latria e o mercado torna-se a grande igreja, vale a pena se refletir sobre tudo isso e para onde se está levando o mundo e com ele as pessoas humanas.

Mesmo em algumas religiões ou denominações cristãs a teologia da prosperidade está grassando, o que não deixa de ser uma heresia camuflada, uma vez que muda o foco do culto a um Deus único e libertador para o culto de uma troca de “favores” ou um deus de mercado: se eu der uma oferta polpuda receberei uma benção ou uma graça maior.

O que vejo é uma inversão de valores a tal ponto que os sete pecados capitais são na verdade, hoje, tido como virtudes e as virtudes sagradas como defeitos ou fraquezas.

Podemos analisar e refletir um a um e constataremos tal fato, mas já a uma primeira vista, veremos que quanto mais rico se é mais se caminha para o prazer gourmet, mais se torna mesquinho e indiferente para com o próximo, mais se entrega aos prazeres do sexo (Porneya), mais exigente e intransigente se é, mais se deseja que o outro tenha menos que você, mais se entrega ao ócio e se acha infinitamente superior ao outro.

Para onde vamos?

 

Assuero Gomes


Médico e Escritor

 

domingo, 18 de novembro de 2012

O circo e a igreja, a igreja e o circo...


 
 
 
 
 

 

Destas coincidências que não se pode duvidar porque quando acontecem já aconteceu e nada mais resta senão acreditar, aconteceu em duas cidades, uma na Itália, perto de Roma outra no nordeste do Brasil, lá para as bandas do sertão. A primeira muito rica e populosa, porém sem jovens e muito menos crianças, a nossa, pelo contrário com muitas mulheres e muitas crianças e muitas jovens, todas muito pobres.

Na nossa, por causa do custo para se manter o circo que estacionara definitivamente nas suas paragens e tendo o dono abandonado o leão por total falta de condições de alimentá-lo, foi obrigado a abandonar também toda a troupe e suas instalações que já haviam se enraizado no terreno seco. Na outra, a da Itália, aconteceu o contrário, um vasto prédio da Igreja, devido ao esvaziamento de público, tornou-se praticamente sem uso e a cúria local resolveu vende-lo. Quem se interessou como único pretendente foi uma rica companhia circense internacional, que adquiriu o majestoso edifício, e o transformou numa imensa casa de espetáculos.

Na nossa, a tristeza invadiu ainda mais aquela pequena comunidade, pois o único divertimento que ainda havia eram as diárias apresentações dos artistas, com o palhaço e suas mesmas piadas, uma bailarina e suas varizes que já não se escondiam, o cachorro amestrado e banguelo que ao final serviu como última refeição do leão, o apresentador com sua cartola rota, o casal de trapezistas que vivia brigando sempre apesar de viverem juntos, e o anão que fazia de tudo no circo desde alimentar o animal, fazer a faxina, ser dublê de palhaço, vendedor dos ingressos e de pipocas.

Na cidade italiana a transformação da igreja em circo não foi lamentada, pelo contrário, trouxe alegria aos velhinhos, pois as bonitas dançarinas, de pernas torneadas, tornavam suas vidas mais felizes, os trapezistas com os movimentos audaciosos junto ao jogo de luzes e som, ativavam as adrenalinas dos expectadores, lembrando seus movimentos perdidos nas artroses da vida. Animais exóticos atraíam a atenção da platéia daquele continente cansado, fazendo com que ela, a platéia, viajasse para países distantes, na sua imaginação... a mais recente aquisição foi um leão magro. O próprio pároco passou a freqüentar os espetáculos quase diariamente e dava boas gargalhadas.

Aqui no sertão, para aproveitar as instalações abandonadas, resolveu-se criar uma igreja, pois acharam que o povo estava vivendo mergulhado no mundo pecaminoso, cuja vida se resumia em trabalhar e ir para o circo, sem penitência nem reflexões nem celebrações nem mortificações, como se não bastasse a fome e a falta de perspectiva. Em pouco tempo consertaram a lona rasgada, ajeitaram a bilheteria, venderam o leão para um zoológico da capital que o revendeu para um circo novo da Itália. Aproveitaram o anão para as coletas. O apresentador, agora sem cartola, para organizar o dízimo, os trapezistas, se quisessem trabalhar teriam que se casar na igreja ou se separar de vez, a bailarina foi proibida de fazer parte, pois mostrara suas pernas todas as noites, e o palhaço...esse não tinha jeito mesmo, pois devido a tantas palhaçadas que fizera no meio daquela gente foi convidado a se retirar, porém resistiu e ficou na platéia.

No circo italiano, as roupas dos padres e acólitos assim como os paninhos do altar, que já estavam em desuso há muito tempo, foram doadas num gesto de caridade para a nova igreja do Brasil. Foi uma grande honra para o nosso pároco que pode se paramentar com roupas do século retrasado, e as vestimentas dos ajudantes e pajens serviram, com alguns retoques, para o anão, que pela primeira vez na vida usou roupas importadas. Foi uma festa. O problema era que o povo acostumado com o circo, queria diversão e não penitência nem reflexão. A igreja de Roma, ou foi o circo, já não lembro mais, orientou para que arranjassem um padre antigo já falecido com fama de santidade e se iniciasse novenas e trezenas, espalhassem sua fama e se abrisse um processo de canonização. Colocassem umas músicas animadas, dançassem e louvassem com muitos gestos, todas as noites, prometessem curas e prosperidade para todos; os que não conseguissem era por culpa deles mesmos e de sua pouca fé. Em pouco tempo duplicou o trabalho do antigo apresentador do circo, todos ficaram felizes e maravilhados...bem quase todos, menos o palhaço, que cada dia mais triste chorava suas lágrimas de melancolia.   

 

 

Assuero Gomes


sábado, 17 de novembro de 2012

O NATAL NÃO MUDARÁ O MUNDO

 
 
 
O NATAL NÃO MUDARÁ O MUNDO

Editorial do Jornal Igreja Nova deDEZEMBRO - 1995



Na verdade o Natal, de tantas lembranças agradáveis, fica guardado na nossa memória e se vai ano após ano, pertencendo a um passado cada vez mais distante.

Como numa tentativa de um náufrago desesperado, nos agarramos às lembranças tentando parar o inexorável tempo. Este continua, passo a passo, arrastando consigo os melhores e os piores de nossos dias. Neste período do ano, as comemorações são grandes, belas e banais....o comércio agradece. Os pobres continuarão mais pobres e mais excluídos, os ricos engordarão suas polpudas contas bancárias, cada vez mais internacionais, às custas do natal.

Os filhos e netos farão um sacrifício e ceiarão com os velhos da família, apressadamente para não perder as festas. E o mundo acordará como ontem, porém com uma ressaca a mais.

Mas uma pequena centelha teima em acender para tocar fogo neste mundo. Uma faísca de um nascimento na periferia, de uma criança pobre, que não é convidada para esta festa. Sua mãe não encontra lugar para dar à luz, e seu pai procura emprego, é migrante.

Assim como não foram convidados para a festa, para seu nascimento ele chama os pobres, os sem-nada, os guardadores dos bens alheios.

Ele fará uma estrela cintilar, e seu brilho irá lentamente se infiltrando nas sombras, até que elas tenham desaparecido completamente da face da Terra. Por causa dele, tão pequeno ainda, muitos serão perseguidos, muitos serão injuriados e conhecerão tribulações, mas por causa dele, também, e exclusivamente por causa dele, todos conhecerão a glória eterna. Está na hora de escolhermos a festa: de um lado, as comemorações descomprometidas com a vida, por outro lado, a festa do nascimento do Senhor da Vida. Da primeira você sai até mais eufórico por alguns momentos, da segunda você sai pleno de vida, com o coração repleto de esperança e fé, na certeza que este mundo não será mais o mesmo, depois deste menino.

E parodiando o pensamento famoso, dirá com seus irmãos: "o Natal não mudará o mundo. Os homens é que podem mudar o mundo. O Natal apenas mudará os homens..."

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

COMO CELEBRAR O NATAL EM OLINDA E RECIFE?

 
 
 
COMO CELEBRAR O NATAL EM OLINDA E RECIFE?

Jornal Igreja Nova - Editorial de DEZEMBRO 1994



Poderíamos sentar antes da ceia, e com a família abrir um velho álbum; nele visitar os quiosques, as retretas, os pastoris, a Missa Oficial com as autoridades militares, civis e eclesiais.

Poderíamos pousar para mais uma foto deste álbum, com os parentes de roupa nova, compradas na última liquidação de algum shopping.

Poderíamos ainda, visitar presépios ou mesmo assistir a alguma peça sacra ou procurar um Papai Noel gorducho, pendurado na árvore de natal.

Há quem colecione cartões ou telefonemas, quem chore de emoção nesta data, quem saia da dieta para recomeçá-la após o Ano-Novo, quem faça três pedidos três vezes admiráveis, que veja a Santa chorar.

Como celebrar o Natal em Olinda e Recife?

Poderíamos ir ao templo, poderíamos ir à Igreja, mas que Igreja?

Poderíamos fazer tudo isso; mas preferimos abrir as janelas. É de lá, do lado de fora, que a estrela vai brilhar; é lá, no lado de fora, que o presépio vivo está armado; é lá que o pastoril do desespero e da esperança está sendo dançado; é lá que o novo está acontecendo e a Igreja se renovando.

É lá, do lado de fora, que Ele insiste em nascer! Insiste em incomodar, em questionar.

É lá, que nos interpela a procurá-lo entre os sinais de morte: fome, miséria, violência, prostituição, luxo, luxúria. É lá que nos desafia a encontrá-lo entre os meninos de rua, ao relento da noite de natal.

Celebrar o Natal em Olinda e Recife é um desafio do menino Deus que exige de nós uma resposta de fé, esperança e amor, para que tenha sentido a renovação da vida encarnada, na realidade histórica dos homens e das mulheres.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Padre Arnaldo, o tempo e a Igreja.


 
 
 
 
Padre Arnaldo Cabral de Sousa, 94 anos.
Vida dedicada ao sacerdócio, à formação eclesial, à Igreja e especialmente aos pobres.
 
 
 
 
Escrevi esse artigo em  23 de novembro de 2007.
Palavras atuais. Vieram do coração.
 
 
 















 
 
 
 
Padre Arnaldo, o tempo e a Igreja.

 

Converso com Padre Arnaldo Cabral de Sousa, nesta tarde de novembro, no seu apartamento em Boa Viagem. Encontro-me diante de um amigo, o qual me habituei a admirar, e no qual vejo uma das mentes mais lúcidas e brilhantes que esta Igreja de Olinda e Recife já produziu. Estou falando de uma juventude de 89 anos, dos quais 64 no ofício de sacerdote. Novembro é seu mês, aniversário de vida e aniversário de sacerdócio.

Muitas maneiras há de se contar o tempo, ora como contas de um terço, dedilhadas em fervorosa oração, ora como páginas de um livro que vai amarelecendo, ora como um trem sobre trilhos, numa férrea estrada que não sabemos bem onde vai dar.

Peço ao amigo para lançar seu olhar sobre esta Igreja que está em Olinda e Recife e me contar o que vê, através de seus olhos do coração, que vê por dentro e por fora. Ele me fala dos arcebispos, com os quais conviveu e pelos quais podemos contar um pouco desse tempo e dessa Igreja.

O primeiro, D. Miguel de Lima Valverde, do qual padre Arnaldo recém-ordenado aos 25 anos de idade, em 1943, foi secretário particular, professor do seminário, quando foi indicado pelo então visitador apostólico do seminário(reitor paulistano e depois bispo D. Manuel Pedro Cunha Cintra) para Vice-reitor e diretor espiritual, indicação esta, aceita por D. Miguel, fato raríssimo devido à pouca idade do padre, mas que passou 5 anos neste cargo.

Padre Arnaldo guarda de D. Miguel a figura de uma pessoa delicada, austera e respeitosa, que aceitou bem a Ação Católica (uma verdadeira revolução na época), e que fazia suas visitas pastorais em todas as paróquias. Era um homem pobre e sem vaidades pessoais. Vivia na frugalidade e quem o visse nas cerimônias oficiais da Igreja jamais acharia assim.

Padre Arnaldo lembra de um episódio, no qual o governador do estado, Estácio Coimbra, chegou para falar com o arcebispo, e este estava rezando o terço e não interrompeu suas orações de maneira alguma. Aborrecido o governador se retirou. Poucos dias depois reconheceu que ‘se um sacerdote agiu assim, era porque era um homem de Deus’.

O segundo arcebispo foi D. Antonio Morais Júnior, que veio de São Paulo, de Guaratinguetá. D. Antonio nomeou “provisoriamente” padre Arnaldo para a paróquia do Espinheiro, na qual ele ficou como pároco por 45 anos ininterruptos. Deste arcebispo o padre ressalta ter sido ele um grande orador. Tinha uma visão pastoral muito avançada para a época, se misturava com o povo, erigiu várias paróquias nas periferias, inclusive as do Morro da Conceição, criou um incrível “carro-capela” onde os sacerdotes podiam dar assistência espiritual ao povo, celebrar a missa, confessar, enfim, uma capela móvel. Este arcebispo foi injustamente apelidado de “Antonio Coca-Cola” porque se dizia na época, que estava em todos os lugares. Era extremamente comunicativo.

O terceiro arcebispo foi D. Carlos Coelho, o qual nomeou padre Arnaldo de volta para direção espiritual do seminário, onde ficou por mais 4 anos; dele guarda a lembrança de ter uma personalidade muito sensata, equilibrada, discreta, de um homem simples, com profundo senso eclesial e com uma firme opção pela Renovação Litúrgica. Um episódio pontual marca bem sua opção pelos pobres: certa vez padre Arnaldo foi chamado por ele para uma conversa importante sobre o seminário, durante a qual, uma velhinha bem pobre bateu à porta do palácio. A irmã do arcebispo foi abrir e D. Carlos interrompeu seu colóquio, mandou a senhora sentar junto deles, conversou demoradamente com ela e atendeu seu pedido.

O quarto arcebispo foi D. Helder Pessoa Camara. Padre Arnaldo foi seu pró vigário geral, assessorando D. José Lamartine. Sobre o Dom, não há mais o que dizer, e tudo o que se disser é pouco. Com ele foi um relacionamento de muita confiança e seriedade. Lembra-se padre Arnaldo de uma pregação que estava fazendo, na presença dele e de muitos outros padres da arquidiocese. O padre disse: “a tristeza é que nós o admiramos, mas não o imitamos...”

Pergunto sobre o próximo que há de vir, ele se nega a fazer uma previsão. Pergunto sobre o futuro da nossa Igreja. Seus olhos brilham e ele profetiza: acho que deveríamos transformar tudo isso, reconstruir ao lado dos pobres, mudar esta estrutura pesada e cansada, estar junto do povo....

Padre Arnaldo lê diariamente pelo menos dois livros, os jornais locais e se mantêm informado sobre a movimentação da Igreja no Brasil e no Vaticano, além de acompanhar as notícias daqui e do mundo. Talvez tenha descoberto um dos caminhos que levam à fonte da juventude, talvez esteja perto demais da Fonte.

Parabéns, caro amigo!

 

Assuero Gomes


 

sábado, 10 de novembro de 2012

Família

 
 
 
A Família
 
 
 
1994 - ANO INTERNACIONAL DA FAMÍLIA

Igreja Nova - Editorial de NOVEMBRO/DEZEMBRO -1993

JANEIRO - 1994



Ao nos debruçarmos sobre o ano que se inicia, o foco de visão é orientado para o vermos com os olhos da família. A misteriosa, fascinante, tensa e bela família humana.

Nela se desenrola e enrola o novelo da existência, tecida com fios de realizações e frustrações, de alegria e de dor, de vida e de morte.

Nela existe e subsiste o núcleo pessoal que nos torna único perante Deus e perante os irmãos e no mesmo movimento da contradição, nela ou na sua negação existe um povo, uma nação. Ampliando ao infinito a teia originada do trabalho e do relacionamento dos fios deste novelo, poderemos num mesmo fio, ligar nossas existências às existências de nossos ancestrais e de nossos descendentes, tornando o tempo e o espaço algo relativo e assim nos mover em direção ao infinito, que na verdade é constituído de pequenos e incontáveis finitos.

É através da família que Deus se manifesta, primeiro na Trindade, depois na encarnação do Filho na família de Nazaré , na igreja - família- comunidade , e principalmente naqueles marginalizados que sem família perambulam nas ruas mendigando ou tentando reaver à força o que de partido se perdeu de seu núcleo existencial, quando um sistema injusto lhe quebrou ou lhe negou uma família.

Falar e pensar família num país cujas estruturas na sua maioria estão muito aquém da fraternidade e cujo relacionamento chega a ser fraticida, há que ser um gesto profético sem perder a ternura e sem jamais escoar numa vala de sentimentalismo inócuo; há que se dizer como o Nazareno, minha mãe e meus irmãos são todos que ouvem minha palavra e as põe em prática!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

"VAMOS TODOS SER COMUNIDADE, EM CRISTO!"

 
 
 
"VAMOS TODOS SER COMUNIDADE, EM CRISTO!"

Texto do editorial do Jornal Igreja Nova
de Dezembro de 1992
Natal



O grande mistério do Natal do Senhor, vem desafiando os homens de toda as épocas. Quem mais se aproximou de uma fímbria de luz deste mistério, foi sem dúvida João, no prólogo de seu evangelho, quando chama Jesus Palavra de Deus encarnada e enviada aos seus, e vai mais além, quando diz que os seus não o receberam, que Ele armou sua tenda entre nós, e ainda que deu poder àqueles que o receberam de se tornarem filhos de Deus. Eis toda teologia, toda cristologia, dogmática, moral, soterologia, missiologia, resumida em poucas linhas, que juntamente com a maior e mais profunda definição de Deus jamais proferida por lábios humanos: Deus é amor, fazem da reflexão joanina o essencial da reflexão do Natal!

`Quando se afirma que Jesus se encarnou, implicitamente aceitamos que Ele assumiu em tudo a humanidade, com exceção do Pecado, portanto assumindo uma cultura e uma época, Jesus se inculturou. Jesus assumiu a cultura judaica, mantendo o espírito crítico, mas sempre densamente inculturado. Quanta lição para os nossos missionários. Quanta lição para a própria Igreja, toda ela missionária, principalmente agora nos 500 anos de celebração (de penitência, deveria) e que planeja a Evangelização 2000!

Quanto ensinamento para as seitas e para os movimentos dentro do catolicismo, que querem prescindir das mediações humanas para promover o bem estar físico, mental e social do Homem, indo de encontro a pedagogia do próprio Filho, que assumiu plenamente sua humanidade!

Gravíssima constatação de João, quando diz que os seus não O receberam. Ele veio para toda a criatura humana, veio e continua vindo. Com se recebe Jesus? Ele mesmo nos responde em Mateus: "Toda vez que deixaste de receber um destes pequeninos, foi a mim que não recebeste..."

Quanta luz para aqueles que pensam e praticam uma religião voltada para o espiritual, achando que o homem desnutrido, com o corpo consumindo a própria carne, pode filosofar uma religião preocupada com a sua alma...

Ele não quis templo, palácio catedral. Não quis o corpo de príncipe, imperador, sumo sacerdote. Ele armou sua tenda, num carpinteiro da zona rural, da periferia. Ele resgatou o tempo da sociedade tribal de Israel, logo após seu Pai Ter libertado o Povo da escravidão do Egito e Ter dado a terra de Canaã, onde todos eram iguais em direitos e deveres, em posse de terra e bens, e onde não havia templo nem exército, e a arca de Deus perambulava entre as tribos, sob uma tenda.

Mas a àqueles que o receberam, deu o poder de serem filhos de Deus!

Eis ai a grande lição do Natal. Qual o resultado da fecundação da Palavra entre a Humanidade? É o nascimento da comunidade, que é o próprio Jesus encarnado, no seu corpo místico. Toda vez que a Palavra gesta uma comunidade, aí o Natal do Cristo se faz presente. Nada há de mais sagrado que a comunidade! Nem religião, nem imagens, nem instituições, nem ritos, nem celebrações desencarnadas da realidade.

Só há Natal se houver COMUNIDADE. Fora disso é festa pagã, é comemoração, é fuga, é teatro, é tradição, pode até ser filantropia, mas certamente não é o nascimento de Jesus.