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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A arte em D. Helder





A arte em D. Helder

O discípulo pergunta ao mestre: “quem é realmente livre no universo?”, ao que obtém como resposta: “o que tu achas?”. O jovem reflete por várias horas e a paciência do mestre não cansa. “É o profeta!” “Os profetas não são livres, eles carregam o peso infinito da Palavra que vai ser anunciada”. Passados alguns minutos o discípulo apresenta seu achado “o sábio, mestre, com certeza, pois tem a segurança na sua mente”. “Ainda não é ele, estimado amigo, pois o sábio carrega na sua mente a tradição dos antepassados”. “Quem é então, mestre?” “Reflita mais e me responde tu mesmo” “Será o cientista que descobre as coisas novas?” “Ainda não é ele, pois está preso a todas as leis da criação”. “Mestre quem haverá então de ser livre neste mundo?” “Foi a pergunta que me fizeste, pergunta-a a ti mesmo”. Passam os minutos e quase desanimado uma nova afirmativa “o filósofo, pois encontrando a razão, encontra o sentido da vida e imune a todo medo e toda superstição e tentação, ele é livre” “Não, ainda. Ainda não é ele o homem mais livre do universo” “Por que, mestre?” “Preso à razão, coloca um aguilhão no próprio coração que não o deixa voar” “Desisto, mestre” “Tão pouco te fez desistir?” Quedaram-se silenciosos. O discípulo estava triste. O discípulo estava triste. O discípulo estava triste. “Ah, mestre, finalmente me chegou a luz!” “Dize-me meu caro, quem é a pessoa realmente livre no universo?” “O místico” “Por que?” “Porque ele não é escravo da fome, nem do frio, nem do sofrimento. Não é escravo dos prazeres nem da necessidade. Não almeja nada a não ser a Luz” “Temo meu jovem amigo que não tenhas encontrado a pessoa realmente livre, ainda. O místico leva consigo, para acompanhá-lo na sua solidão, a religião” “Quem, mestre, dize-me logo, pois esgota-me o pensamento!” “Pensa mais um pouco, caro discípulo” “se não é o místico por causa da religião, também não o é o sacerdote” “estás correto”.Passou-se um bom pedaço de tempo e o discípulo disse “são os amantes, pois o amor dos dois releva todas as outras coisas, e para eles só há ou outro” “ainda não são os amantes os mais livres, pois no seu amor só enxergam um ao outro, são pois, como prisioneiros deles próprios” “mestre, seriam os multimilionários?, que não tendo necessidade de trabalhar e podendo adquirir tudo o que quiserem, são livres?” “Oh, meu jovem, estes são os mais escravizados dos escravizados do mundo, pois tecem suas próprias grades com o medo e o ouro que acumulam”. O discípulo já não podia pensar mais em nada. Repentinamente uma última e luminosa idéia veio-lhe à mente e assim falou ele ao seu mestre “mestre, só agora veio a iluminação.Peço que me perdoes, pois sou ainda lento na reflexão e meditação” “quem é realmente livre neste universo?” “a criança” “por que tu dizes isso?” “a criança é inocente e seus desejos são simples e suas necessidades quando atendidas a fazem a pessoa mais livre do mundo, pois já não há desejo nem necessidade” “sinto te dizer meu caro amigo, a criança ainda não é a pessoa realmente livre neste mundo, pois dependem inteiramente dos cuidados de seus semelhantes para sobreviver”. Silêncio. Silêncio. Silêncio. O mestre, sentindo o desespero chegando ao discípulo, chamou a Helder, seu amigo, e perguntou-lhe na frente do discípulo “Helder, meu amigo, dize pois a este jovem, a teu ver, quem é a pessoa humana realmente livre no universo?” “O artista”.

Assuero Gomes

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