Lilith
Deus criou três mulheres, três mulheres Ele criou.
No princípio Deus criou Lilith, a primeira mulher de Adão
(Gn 1,27). Depois Deus criou Eva (Gn 2,22), a segunda mulher de Adão.
Finalmente Deus criou Maria, a mãe de seu único filho,
Jesus.
Lilith, criada a partir do mesmo barro, não quis se submeter
a Adão, pois totalmente independente, afetiva e sexualmente, nem se submeteu ao
próprio Deus. Condenada a vagar em lugares desertos e inóspitos, foi
identificada com demônios, tendo sua manifestação mais clara no próprio Jardim
do Éden na figura da serpente.
Lilith está associada à luxúria e devassidão, assim como aos
abortamentos provocados, ao adultério, aos sacrifícios cruentos, à morte. Em
diversas civilizações foi reconhecida como divindade feminina ligada muitas
vezes à lua, pela sua inconstância de caráter, na Suméria ela está associada a
uma categoria de demônios da tormenta e ventos do deserto, na Babilônia era
cultuada como divindade da fertilidade e demônio por suas alterações de
personalidade, ora boa ora cruel. Na Mesopotâmia antiga era identificada a um
demônio feminino da noite portadora de doenças e até da morte. Na mitologia
grega alguns estudiosos a identificam como Hécate, a mulher escarlate, a
guardiã dos infernos, montada em um gigantesco cão de três cabeças, chamado
Cérbero. É, no entanto, na tradição hebraica que mais detalhes temos sobre essa
personagem misteriosa, muito provavelmente banida da tradição cristã na Idade
Média, por tudo que ela representa; segundo essa tradição dos judeus, cujo
primeiro contato com Lilith deve ter se dado durante o cativeiro da Babilônia,
Lilith tinha algo em torno de 100 filhos por dia, quando nasciam meninas eram
chamadas de súcubus e meninos de íncubus, que se alimentavam da energia
desprendida do ato sexual e de sangue humano (quem sabe daí não se origina a
lenda dos vampiros?). Nos poucos relatos católicos medievais que sobreviveram
ao tempo, algumas coisas são interessantes, como por exemplo, ‘ao ataque de
Lilith, o possuído sentiria uma forte dor no peito, como uma vingança dela por
ter sido obrigada a ficar por baixo de Adão durante o ato sexual e ainda sua
vagina teria a capacidade de cortar o pênis’. Ao mesmo tempo em que Lilith
representa a liberdade sexual feminina, também representa a castração
masculina.
O que espanta é o súbito interesse que tem despertado essa
personagem infeliz em alguns círculos feministas e de intelectuais atuais.
Seria um sinal dos tempos ou um modismo passageiro?
Resta a certeza de que mesmo tendo Eva caído em tentação (Gn
3, 1-6), Maria esmagou a cabeça da serpente para sempre (Gn 3,15).
Assuero Gomes
Médico e escritor
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