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quarta-feira, 16 de maio de 2012

Lilith





Lilith



Deus criou três mulheres, três mulheres Ele criou.

No princípio Deus criou Lilith, a primeira mulher de Adão (Gn 1,27). Depois Deus criou Eva (Gn 2,22), a segunda mulher de Adão.

Finalmente Deus criou Maria, a mãe de seu único filho, Jesus.

Lilith, criada a partir do mesmo barro, não quis se submeter a Adão, pois totalmente independente, afetiva e sexualmente, nem se submeteu ao próprio Deus. Condenada a vagar em lugares desertos e inóspitos, foi identificada com demônios, tendo sua manifestação mais clara no próprio Jardim do Éden na figura da serpente.

Lilith está associada à luxúria e devassidão, assim como aos abortamentos provocados, ao adultério, aos sacrifícios cruentos, à morte. Em diversas civilizações foi reconhecida como divindade feminina ligada muitas vezes à lua, pela sua inconstância de caráter, na Suméria ela está associada a uma categoria de demônios da tormenta e ventos do deserto, na Babilônia era cultuada como divindade da fertilidade e demônio por suas alterações de personalidade, ora boa ora cruel. Na Mesopotâmia antiga era identificada a um demônio feminino da noite portadora de doenças e até da morte. Na mitologia grega alguns estudiosos a identificam como Hécate, a mulher escarlate, a guardiã dos infernos, montada em um gigantesco cão de três cabeças, chamado Cérbero. É, no entanto, na tradição hebraica que mais detalhes temos sobre essa personagem misteriosa, muito provavelmente banida da tradição cristã na Idade Média, por tudo que ela representa; segundo essa tradição dos judeus, cujo primeiro contato com Lilith deve ter se dado durante o cativeiro da Babilônia, Lilith tinha algo em torno de 100 filhos por dia, quando nasciam meninas eram chamadas de súcubus e meninos de íncubus, que se alimentavam da energia desprendida do ato sexual e de sangue humano (quem sabe daí não se origina a lenda dos vampiros?). Nos poucos relatos católicos medievais que sobreviveram ao tempo, algumas coisas são interessantes, como por exemplo, ‘ao ataque de Lilith, o possuído sentiria uma forte dor no peito, como uma vingança dela por ter sido obrigada a ficar por baixo de Adão durante o ato sexual e ainda sua vagina teria a capacidade de cortar o pênis’. Ao mesmo tempo em que Lilith representa a liberdade sexual feminina, também representa a castração masculina.

O que espanta é o súbito interesse que tem despertado essa personagem infeliz em alguns círculos feministas e de intelectuais atuais. Seria um sinal dos tempos ou um modismo passageiro?

Resta a certeza de que mesmo tendo Eva caído em tentação (Gn 3, 1-6), Maria esmagou a cabeça da serpente para sempre (Gn 3,15).



Assuero Gomes


Médico e escritor

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