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terça-feira, 8 de maio de 2012

Maria antes da Assunção






Maria antes da Assunção



Lembre-se cara irmã, caro irmão, lembre-se bem, que antes, muito antes, que os homens e as instituições produzissem as belas obras de arte que mostram a ternura, a beleza, a contemplação, de nossa Mãe...

Muito antes que a tivessem ilustrado e a colocado em redomas, altares e sacrários, e houvessem construído belíssimas igrejas, catedrais, basílicas e capelas...

Muito antes das aparições, verdadeiras aparições. Mesmo antes que houvesse a nossa Igreja, as devoções mariais, os terços, os rosários, os benditos, as ladainhas, os cantochões....

Muito antes dos programas piedosos de rádio, televisão, de caravanas e santas peregrinações, das camisetas estampadas, dos adesivos, das medalhas, muito antes de tudo isso, e ainda mais...

Antes que Judas traísse, que Pedro negasse, que Barrabás se vangloriasse, que Pôncio Pilatos se embebedasse, que Jerusalém fosse aniquilada, antes que a primeira pedra atingisse Estevão, que Saulo transmudasse em Paulo...

Antes mesmo que Zacarias recuperasse a voz, que Isabel se rejubilasse, que a esterilidade das antigas instituições se tornasse fértil, e antes que dessem falta do vinho na festa...

Há Maria.

Simples, tranquila, serena majestade do serviço. Há a Maria que carrega lenha, que tira água do poço, que sofre com as outras Marias, que dá coragem aos fracos na perseguição...

Maria morena, que cozinha para sua família, que ensina seu pequeno a falar, a orar, a andar, a se lavar...serena mãe que acode, que cuida, que pensa as feridas e os arranhões. Mãe que se reúne com outras mães ao cair da tarde para confabular com suas semelhantes, para sorrir com as outras, para chorar com as outras, para servir com as outras.

Maria que migra à procura de segurança, que dá à luz nova vida revestida de fraqueza entre dores e sorrisos. Maria que enfrenta soldados para defender sua cria, que acompanha seu esposo, que ilumina sua casa, sua família, seu lar. Maria que amamenta, que separa sua porção racionada de comida para que não falte aos seus, Maria que sorri, o doce sorriso da majestade misteriosa de um reino incipiente e invisível aos olhos do mundo, mas que para ela já brotou do seu ventre.

Lembre-se caro irmão, cara irmã, esta Maria, antes do dourado, da coroa, das jóias que lhe puseram a contragosto, é muito mais bela, mais real, mais necessária.

E antes de retirar-se, após sua oração, olhe com carinho, com os olhos de ver por dentro, os inúmeros filhos dela, seus irmãos que perambulam do lado de fora dos templos, das casas e dos lares, pois não há lugar para eles. E olhando, se indigne, pois são seus irmãos e suas irmãs, e veja então, que não se pode agradar uma Mãe, sem acudir seus filhos que estão sofrendo.

Terna, doce, sempre virgem Maria, pena que nossos olhos de olhar para dentro estejam tão cegos, que não podemos te vislumbrar em plenitude. Mas mesmo assim, na nossa assunção derradeira, segura na nossa mão infiel, para que não nos percamos no caminho.

Amém!



Assuero Gomes



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