Maria, luz da manhã!
Empreste-me a poesia da cosmo
visão dos antigos, que via em cada astro o olhar de uma divindade cintilante, a
nos observar sob uma abóbada de cristal nos céus da Mesopotâmia. Dê-me o cantar
das loas divinas do salmista, na harpa de Davi, ou a beatitude da sensação da
brisa passando suave por sobre o manto de Elias.
O astro sol com seu fulgor
aquecendo e iluminando a humanidade, mergulhando no vale da noite e renascendo
a cada dia na sua luz, empresta sua claridade à lua. Permita-me o sol, e sua
intensidade, deter-me a contemplar a mais bela criatura da noite que não
permite que a escuridão derrame seu assombro pelas cidades dos homens nem pelos
vales da terra, nem pelas criaturas dos campos.
O sol nos eleva a Deus: quem
poderá contemplar face a face o Senhor e continuar vivo? Perguntam os escritos
sagrados...quem poderá contemplar face a face o sol na sua maior intensidade e
continuar enxergando? No entanto, a lua nos enleva na sua beleza meiga, tão
feminina, tão feminina, que se mostra a face terna de Deus, quando mesmo ela
não tendo luz própria, reflete, humilde, a luz que absorveu do sol e a partilha
com todos os filhos e as filhas de Eva, para que não pereçam na escuridão da
noite.
Prenúncio da aurora que virá,
revela a presença do sol, mesmo na madrugada, sendo alento para os caminheiros,
farol para as embarcações perdidas e rumo aos errantes, inspiração para os
poetas, paixão para os enamorados, consolo para os desesperados. Presença bela
no mar como no céu dos sertões.
Que seria da noite sem a lua e da
humanidade sem Maria? Como pronunciar o nome de Deus sem um grande temor, se
não a houvesse, pois foi ela quem o acolheu pequeno, o amparou nas primeiras
quedas, o perdoou nas primeiras travessuras, quem enxugou suas primeiras lágrimas
e ouviu suas primeiras palavras balbuciadas em aramaico. Quem foi
seu consolo e sua luz nas noites de medo pelas quais toda criança passa? Quem
saciou sua sede e sua fome e quem lhe ensinou as primeiras palavras da oração
“escuta oh Israel, o Senhor é teu Deus....”?
Quem estará nos nossos lábios na
noite mais escura de nossas vidas, no nosso momento derradeiro? Quem rogará por
nós, senão aquela cujo simples suspiro conta mais que a oração de toda
constelação celeste?
Teu nome é Maria, luz da manhã!
Assuero Gomes
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