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domingo, 24 de junho de 2012

Jesus e a Igreja


                                           Réplica da Pietá de Michelângelo, na Catedral de Brasília






Jesus e a Igreja



Meu irmão mais novo, Fernando Brito, me instiga à reflexão com algumas perguntas (colocações) pertinentes. A primeira é a seguinte: o que Jesus deixou e pediu para a Igreja fazer (se ela está fazendo ou como ela deveria está fazendo...)?

Caro Fernando, creio que Jesus no âmago da missão da Igreja colocou que ela anunciasse a presença do Reino, de forma coerente e concreta, especialmente (não exclusivamente) e em primeiro, para os marginalizados da sociedade. Deixou para tal anuncio e presença vivencial do Reino um poder muito grande para seus seguidores, o poder do serviço que é a mais perfeita forma de Amor. Creio que se nós acreditássemos um pouco no Amor de Jesus para com a humanidade (aí nós incluídos), a plenitude do Reino já estaria bem mais próxima, afinal são mais de 20 séculos...

A Igreja, agora falando como instituição, está anunciando e fazendo acontecer esse Reino? De maneira concreta, coerente e insofismável? A resposta é clara...

Fazer memória de Jesus através da Eucaristia é de uma ousadia sem limites. É assumir um compromisso perigoso com a história da humanidade e a transcendência. Fazer memória de Jesus através da Eucaristia é comprometer sua vida e sua comunidade (pois só existe Eucaristia através da comunidade) com as mesmas ações e atitudes de Jesus perante a sociedade de cada tempo em que é celebrada, ou seja, se estar disposto às últimas consequências na defesa do ideário do Reino (justiça, misericórdia, igualdade, serviço, gratuidade, fraternidade, fartura para todos). É sim, muito importante para o cristão hoje, como foi no passado e como será no futuro, sem essa visão e essa atitude de compromisso, o discurso de Jesus fica vazio e a Eucaristia fica sem sentido. Temo que muitos de hoje não percebam a Eucaristia como ela realmente é, uma refeição comprometedora com os ideais do anfitrião.

É importante ter fé e não participar da Eucaristia? É possível até certo ponto. Creio que a Eucaristia alimenta a fé e a fé alimenta a Eucaristia. Quando nos alimentamos do corpo e do sangue de algum ser vivo, incorporamos sua vitalidade, e sua proteína é incorporada e transformada na nossa que é a parte estrutural do nosso corpo. A nível espiritual, quando o Senhor nos dá sua própria carne e seu próprio sangue, e nos alimentamos deles, ficamos de tal maneira unidos a Ele que nos tornamos inseparáveis, entende?

Quando Jesus diz aos apóstolos (que estão unidos em Igreja) que perdoem os pecados, na verdade Ele está dando um imenso instrumento de SERVIÇO para aliviar o peso do sentimento de culpa que a humanidade carrega (esse poder jamais deverá ser usado para manipular, oprimir, obter vantagens financeiras ou políticas, pois quando assim a Igreja o fizer, na verdade estará traindo a finalidade primeira desse dom magnífico, e toda culpa recairá sobre ela mesma). O sentimento de culpa que atordoa a humanidade desde a primeira infância já foi percebido pelos gregos na antiguidade e no mundo moderno foi magistralmente pesquisado e encontrado na sua raiz, por Freud, que descendo à escuridão do inferno interior deixou por lá, pelo menos, uma pequena luz. Daí a importância do serviço “perdoar”.

O que Jesus deixou para os doze fazerem e para o Povo de Deus?

O Reino tem sinais bem concretos, ele não é nenhuma alienação nem exercício mental espiritual ou filosófico. Os cegos devem enxergar, os surdos ouvir, os coxos andar, os famintos e sedentos ser saciados, os nus vestidos, os presos libertados, os doentes curados, os migrante acolhidos e a boa nova deve ser anunciada a todos os povos. Com o avanço do conhecimento humano, tudo isso já pode ser feito. Praticamente todas as pessoas da terra já ouviram falar de Jesus, de cada quatro, uma se diz sua seguidora.

Alguma coisa está muito errada...



Assuero Gomes


Cristão católico leigo da Arquidiocese de

Olinda e Recife

 


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