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domingo, 30 de setembro de 2012

SOLIDARIEDADE




 
 
 
SOLIDARIEDADE

 

Jesus foi solidário, e é ainda, e será eternamente.

A solidariedade é o contrário da solidão. A solidão é na verdade, um dos sofrimentos mais terríveis que o ser humano pode sentir. A solidariedade transporta você para junto do outro. Quando se está junto, dividimos nossas preocupações e nossos problemas, é como se trocássemos os pesos nossos de cada dia por um pedaço fraterno de pão.

A solidariedade nos torna mais humanos, e quando somos mais humanos, mais nos aproximamos de  Deus.

Fomos feitos à imagem e semelhança de Deus, e o Pecado deformou essa imagem, no entanto, Jesus, solidário com nossa natureza humana, se tornou como um de nós, e nos ensinou o caminho de regresso ao convívio amoroso do Pai.

Só chegamos ao Pai, se formos todos juntos como irmãos verdadeiros. É a solidariedade que nos torna irmãos.

Maria foi solidária todo o tempo. Com sua família, com suas amigas, com sua pequena comunidade de Nazaré, com os amigos de Jesus e finalmente com todos os que fazem a verdadeira Igreja/comunidade de fé.

Notou que sem solidariedade nos afastamos de Deus Pai, de Jesus, de Maria, da Igreja, de nossos irmãos e irmãs, e ainda nos tornamos menos humanos?

Uma santa e um santo, comuns como nós, que foram se descobrindo cada vez mais humanos e cristãos através da solidariedade para com os pobres e miseráveis, foram Luísa de Marillac e Vicente de Paulo, tão conhecidos de nossa comunidade. Eles nos deram exemplos concretos de solidariedade, e através dos tempos mudaram a vida de milhões de pessoas, mostrando a verdadeira face de Cristo no meio de nós.
 
Assuero Gomes

 

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Podeis comungar!


 
                                                "O prato de Deus é a Fome do Pobre!"
 
 
 
 
 
Podeis comungar!

 

Uma das maiores contradições da religião cristã, de denominação católica apostólica, do rito romano, é a pouquíssima freqüência dos seus seguidores à celebração eucarística. Imagino que, se apenas 10% de todos os batizados participassem dela, não haveria nem templos nem espaço para tanta gente. Merece um aprofundamento essa questão que me parece crucial, tendo em vista ser a refeição eucarística o núcleo vital da nossa vida pessoal, eclesial, espiritual e missionária. Hoje, no entanto, gostaria de deter-me em outra questão, também vital, e que é como um “escândalo” para nossa Igreja, ou deveria sê-lo: dos raros cristãos e cristãs que vão à celebração, menos, muito menos da metade, participam da refeição propriamente dita.

A missa, como comumente é chamada, consiste basicamente de dois momentos: a partilha da palavra e a partilha da carne e do sangue de Jesus. Toda a cerimônia se inicia com o ato penitencial, onde individual e comunitariamente se pede perdão a Deus pelas faltas cometidas e se recebe o perdão através desses ritos iniciais. Este perdão é sacramental. Penso que a grande maioria de nós católicos e católicas não acredita nesse perdão ou não o valorizam, pois, continuo pensando, não nos aproximamos da mesa eucarística para receber o pão e o vinho consagrados, por pensarmos não estarmos `purificados´ pelas faltas que cometemos no dia a dia de nossas vidas. Devido a uma catequese errada que recebemos desde a infância, onde se valoriza sobremaneira o Deus que castiga, o pecado, a tentação, o inferno em detrimento ao Pai misericordioso, ao Filho que já sofreu por nós tudo o que deveríamos ter sofrido, à graça plena e abundante do Espírito, ao perdão amoroso, ao paraíso que deveríamos já estar vivenciando, ali na presença viva de Jesus.

Outra coisa muito importante que devemos ter sempre consciência, como cristãos e cristãs adultos que somos, é que a instituição não é a proprietária da eucaristia, no máximo é a depositária, da qual deveria ser uma depositária fiel, e tantas vezes foi tão infiel, tal qual a esposa de Oséias (lembrem-se da Inquisição, da invasão e destruição dos povos nativos das Américas, da bênção sobre a escravatura, e tantas outras infidelidades a Cristo).

Para Jesus, para o cristão e a cristã, o nosso templo é o nosso coração. Nossa liturgia deve ser a do samaritano, e nossa liberdade deve ser medida pela nossa consciência.

Quando participo da sagrada Eucaristia, imagino que aquela mesa foi posta pelos pobres para toda humanidade, e Jesus ali presente, de braços abertos, se oferecendo amorosamente para seus irmãos e irmãs, chegando a sussurrar ao coração de cada um:

- Vinde benditos de meu Pai, para a festa que está preparada para vós desde a eternidade. Podeis comungar !

Assuero Gomes

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Alegria de Servir






INFORMATIEKCKLEINE COMPAGNIE OFFICIËLE MEDEDELINGEN

VAN HET PROVINCIALAAT LAZARISTEN

SEPTEMBER 2012 09/12

27 September, ST. VINCENT

Op het feest van de Verheffing van het Heilig Kruis 14 september 2003 werd door Jan Pubben en zuster

Maria Wanda in Recife een boekje uitgegeven met als titel Alegria de Servir.

Talrijke illustraties van Assuero Gomes tonen St.Vincent onder allerlei

omstandigheden. Zo was de heilige een creatieve en rijke, bijna onuit- puttelijke, persoonlijkheid. Voor de

gemeenschap van Dois Unidos, vastgelegd in woord en beeld.

Zo wordt hij gevierd over heel de wereld als de grote heilige van barmhartigheid en liefde voor de mensen,vooral voor hen die in nood zijn, maar ook als inspiratie en bemoediging voor hen die in zijn voetstappen willen treden.

Van maandag 17 tot zaterdag 22 september waren Chris Janssen en Vic Groetelaars op bezoek bij de Barmherzige Schwestern in Fulda.

Negen dagen voor het feest van St.Vincent, op 27 september, werd elke avond in een kort samenzijn het feest voorbereid.

De zusters behoren tot de federatie van congregaties die vooral in de 19
e eeuw vanuit Strassbourg zijn gesticht. Bij de herbronning van hun levensorde hebben zij elkaar gevonden en bewaren zij samen de personen van Vincent en Louise de Marillac als een bron van voortdurende inspiratie.

Ook wij vieren Vincent,die de wacht houdt voor het Missiehuis en die in de gang boven de deur,nog altijd de spreuk van de congregatie nog altijd duidelijk zichtbaar laat zijn:

EVANGELIZARE PAUPERIBUS MISIT ME.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O fim dos tempos, The end times, El fin de los tiempos, Die Endzeiten,В конце раза, La fin des temps...


 
 
 
 
 
 
O fim dos tempos

 

Terremotos, vulcões, maremotos, a Terra geme como em dores de parto. Guerras, extermínios, fome, peste, heresias, apostasias, destruição, sinais no cosmos, infanticídio, pedofilia, corrupção, roubo, assassinatos, tsunamis, drogas, a Terra emite sinais de exaustão e revolta.

Muitos se perguntam se o fim do mundo está às nossas portas.

Na teologia há um ramo de estudo que chamamos de escatologia, e que trata exatamente do final dos tempos. Os acontecimentos que ora presenciamos e nos angustiamos, na verdade sempre existiram, talvez em menor grau, mas como vivemos num mundo midiático de comunicação global em tempo real, tais eventos se apresentam mais terríveis ainda.

Na escatologia cristã alguns sinais são importantes. Através da leitura dos textos bíblicos, iluminados pela experiência pascal (encontro com o Ressuscitado) podemos concluir algumas coisas. Fica evidente que Jesus anunciou estes sinais cósmicos como premonitórios da escatologia, seguindo a linha profética e apocalíptica do seu povo judeu. Muito provavelmente tomou conhecimento e quiçá presenciou a destruição de Séforis, capital administrativa e centro cultural da Galileia, quando tinha em torno de 9 anos de idade (ficava a 7 km de Nazaré), que ficou marcada no seu inconsciente (a cidade foi destruída pelos romanos após um levante contra sua dominação). A pregação de Jesus, escrita somente após décadas de sua ressurreição, pelos evangelistas, teve influência da brutal destruição de Jerusalém pelos mesmos romanos no ano 70.

Há alguns sinais mais precisos, no entanto, que sinalizam para o “temido” final do mundo. Três me parecem fundamentais: o primeiro é quando todos os povos da terra tiverem ouvido a pregação cristã. No momento atual, talvez restem uns poucos habitantes da floresta amazônica, que estão neste grupo. O segundo é a (re)fundação do Estado de Israel em 14 de maio de 1948.

O terceiro, e mais fundamental de todos, seria o reconhecimento por parte dos filhos de Israel que Jesus é o Messias esperado.

Precisamos entender também a cosmovisão do Povo de Deus na época histórica de Jesus: a Terra seria como uma grande bandeja sobre o mar. Este por sua vez seria o habitat dos monstros infernais, o grande abismo. A Terra teria sobre si como uma abóboda de vidro, aliás, em sete camadas (daí sétimo céu) donde os astros celestes estariam dependurados (sol, estrelas, cometas, lua, etc...). Deus estaria como que sentado no seu trono acima da mais alta das camadas celestiais. Haveria ainda uma escada (a do sonho de Jacó) que ligaria a Terra aos céus.

Jesus reiterou algumas vezes sua segunda vinda (parusia), desta vez definitiva e em sua plenitude de glória. Aqui se fundem várias opiniões que tendem a juntar todos esses acontecimentos num só momento, predito já pelos antigos profetas de Israel e assumido até os dias de hoje por várias correntes do pensamento teológico. Seria o Dia do Senhor, o Dia de Yahweh , onde e quando dar-se-ia o Juízo Final, o Julgamento Final, e assim por diante.

Uma certeza, porém, é radical (de raiz) para os que praticam os ensinamentos de Cristo (seguidores ou não de alguma religião): o mundo tal como o percebemos hoje será transformado num novo céu e numa nova terra (outra dimensão?), onde o relacionamento de Deus e os seres humanos e todas as criaturas será pleno, pacífico, feliz, sem dor de qualquer natureza, sem morte, sem choro, em pleno convívio com o Criador. Um tempo de Amor manifesto e eterno.

Assuero Gomes

domingo, 16 de setembro de 2012

Pensamentos do Dom


 
 
                               Pensamentos do Dom
 
 
 
"Isto é o meu corpo" - quantos de nós, Senhor, admitimos ser chamados de "isto"?...

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Há terra suficiente para todos, assim como há alimento para todos. Mas, enquanto  o homem colocar o lucro como seu objetivo fundamental, não escaparemos jamais de absurdos gritantes como a superprodução de um lado, e a subnutrição de outro.

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Que nenhum problema de nenhum povo lhe seja indiferente. Vibre com as alegrias e esperanças de qualquer grupo humano. Adote como seus os sofrimentos e humilhações de seus irmãos de humanidade.
 

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Seja qual for sua condição de vida, pense em si e nos seus, mas torne-se incapaz de fechar-se  no círculo estreito de sua pequena família. Adote de vez, a família humana.
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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Poesias do Dom (Helder Camara)


 
 
 
 
                                          Mural "Tributo a Gaudí" do Sindicato dos Médicos de PE
 
 
 
Poesias do Dom
 
 
Às 5 horas, exatamente

chega à minha janela

a carrocinha de pães

e fica distribuindo pão

a vizinhança inteira...

Que tal

se fizéssemos o mesmo

com os Pães de sonho

e de paz ?

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Poesias do Dom (Helder Camara)


                                          rio Vltava
 
 
 
Poesias do Dom
 
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Se  partires teu pão
com medo
sem confiança
sem audácia,
em dois tempos,
teu pão
se acabará.
Experimenta parti-lo
sem previsão,
sem cálculo,
sem poupança,
como filho de Deus,
de todos os trigais do mundo...

 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

A última lição de D. Helder, La dernière leçon de D. Helder,The last lesson of D. Helder,Die letzte Lektion des D. Helder,


                                           
 
 
 
 A última lição de D. Helder

 

Hoje, 17 de agosto de 2012, na Sé de Olinda, procedemos à exumação dos restos mortais de D. Helder. Manhã fria e chuvosa de agosto.

Depois de praticamente treze anos sepultado no chão dessa igreja, seus restos mortais repousarão ao lado dos de D. Lamartine, bispo irmão que o auxiliou no pastoreio da Arquidiocese de Olinda e Recife e dos de Pe. Henrique, mártir da ditadura que se instalou no nosso país a partir de 1964.

Envolta em seu caixão ainda restava a bandeira do Movimento dos Sem Terra, intacta, na época, um símbolo da luta de camponeses em busca de um pedaço de terra para plantar e sobreviver com suas famílias. Lembro-me do dia do enterro.

Confesso que nutria em meu íntimo a esperança de que o corpo dele estivesse intacto também, tal qual a bandeira, pois no meu pensamento isso seria um sinal poderoso para a Igreja, de que o Dom é um santo e como tal, tudo que ele lutara e escrevera e sinalizara teria que ser aceito oficialmente.

Ledo engano. Mais uma vez o profeta surpreende! Mais uma vez ele nos mostra que os pobres é que são os profetas de Deus.

Lentamente ele nos vai ensinando sua última lição, ou seria a primeira na vida plena? Não importa, é uma lição importante, um ensinamento para nós e para nossa Igreja: tudo passa, prestígio, glória, cargos, poder. Tudo é pó e ao pó tudo retorna. Outro ensinamento: os pobres são os destinatários primeiros da boa nova do Ressuscitado, pois só Ele é quem saiu do túmulo com vida, e vida plena.

Pouco a pouco a morte vai mostrando aos olhos humanos o estrago que causa, mesmo nas pessoas mais especiais e queridas. O som lúgubre, oco, de saudade, destampa as lajes do chão da Sé. Outra surpresa, o Dom foi sepultado como os leigos o são, com a cabeça voltada para a porta, e não ao contrário, como os clérigos. O que o desgaste da morte não mostra é o que os olhos da fé iluminam, como uma luz vinda do alto a nos perguntar: por que procuram o vivo dentre os mortos?

A resposta veio-me algumas horas após. Saindo dali, deu-se à luz uma criança, nos meus braços, saudável, chorando forte a plenos pulmões, inspirando e expirando o sopro da vida, o pneuma que a tudo anima.

Certamente mais um sinal do Dom, ensinando que a vida é eterna.

 

Assuero Gomes

Médico e escritor


 

 

 

domingo, 9 de setembro de 2012

“ Sonhos, sonhos são”


 
 
 
 
 Sonhos, sonhos são”

 

Os sonhos e as cirandas são para ser vividos e celebrados. Os `sonhos sonhos são´, e serão tanto mais belos quanto mais altos e mais profundos, até tocarem o chão por onde caminham os pés desnudos e calejados.

Os sonhos existem para serem sonhados e dançados como as cirandas, sem donos, sem orquestras nem maestros, de mãos dadas, à beira-mar, ao som do vento e do balbucio dos coqueiros, no ritmo das ondas. Serão findos, mas infinitos enquanto mudam a realidade de dor e sofrimento; enquanto são ternura e acalanto, e terão existido mostrando que uma realidade mais próxima de Deus é possível.

As cirandas são efêmeras como os desenhos que fazemos na areia da praia, mas a felicidade que proporcionam é eterna no coração de quem as ouvem e as dançam; assim a comida. Sacia no momento. Teremos fome mais tarde, mas a plenitude da saciedade é graça, é dom, é infinita. Deixa saudade, deixa memória, deixa presença.

Talvez seja este o último número deste jornal. Talvez não. Sinalizamos que é possível se fazer presente no presente do pobre faminto. Sinalizamos que é possível tornar concreto o Evangelho e a Eucaristia. Mostramos também como é frágil e limitada nossa fé.

Somente por muito amor, muito amor, os pobres nos permitiram oferecer estes alimentos nestes quatro anos, e somente por sua misericórdia, sua profunda misericórdia, nos perdoarão por não podermos mais continuar.
 
Fev.2008 quando da despedida do restaurante do Dom da Partilha

 

 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

D. Helder e Chico Buarque


 
 
 
 
 
D. Helder e Chico Buarque
 
 
 
 
Jornal Igreja Nova - 08/99
 
Esta entrevista, foi concedida pelo cantor e compositor Chico Buarque de Hollanda, a Assuero Gomes, integrante do Grupo de Leigos católicos Igreja Nova, quando de sua visita a Dom Helder, no dia 16 de julho.
 
Igreja Nova - Chico, qual a lembrança mais interessante que você tem, em relação a Dom Helder Câmara?
 
Chico Buarque - Todo mundo sabia que não se podia falar em Dom Helder. Eu não era muito querido também não, mas podia fazer meus shows. Eu vim aqui fazer um show no Geraldão, o show estava indo e tinham me falado que Dom Helder estava lá assistindo. O show estava indo mais ou menos morno, uma música e outra, aí eu falei: "eu queria anunciar e agradecer a presença de Dom Helder Câmara. Eu nunca fui tão aplaudido na minha vida. Aquele ginásio veio abaixo. Foi uma coisa linda. Isso foi em setenta e pouquinhos... setenta e dois, setenta três.
 
Zezita - Sempre que você fez shows aqui, Dom Helder foi aos seus shows.
 
C.B. - Sempre. Das outras vezes eram shows mais tranqüilos. Desse, eu me lembro especialmente por causa disso. O nome dele estava inteiramente vetado, me disseram que ele estava lá, mas era segredo. E quando eu falei, o ginásio inteiro, todo mundo levantou, aplaudiu. Foi o meu maior sucesso. (risos)
 
I.N. - O que Dom Helder representa para você?
 
C.B. - Bom, para mim e para o Brasil inteiro , Dom Helder é um símbolo de luta pela justiça social. Se a gente se lembra dele no Rio de Janeiro, ainda no tempo da Favela do Pinto, nos anos sessenta, a atividade dele lá, deixou marcas até hoje. E mais adiante um símbolo de luta também, pela liberdade, pela democracia na época da ditadura, onde ele era uma das pessoas mais visadas, mais cerceadas, mais vigiadas e mais perseguidas. Eu conheço Dom Helder pessoalmente, desta época e tenho uma admiração profunda por ele. Eu e todos os brasileiros temos uma dívida muito grande para com ele.
 
I.N. - Você que sempre foi o nosso ícone de luta por uma situação melhor para o país, falando em linguagem de igreja, da "denúncia profética", o que é que você espera do Brasil para o futuro, já que, em nossa opinião, Fernando Henrique foi um grande fiasco?
 
C.B. - Bom. já que estamos falando a linguagem de igreja, vou citar Dom Mauro Morelli que diz que preferia Fernando Henrique quando ele era ateu. (risos)
Eu acho isso ótimo. Enfim, eu já não tinha grandes esperanças desde o primeiro governo de Fernando Henrique. Achava que essa aliança que o PSDB estabeleceu com o PFL, era perigosa e no fim das contas, se revelou mais perigosa do que eu imaginava, porque no governo, numa aliança de liberais e social-democratas, não sobrou para a social-democracia. E parece que a necessidade de afirmar essa aliança e de renegar o passado, falou mais alto. Enfim, nós temos aí mais três anos de espera, não sei bem do quê. Vamos pensar em 2002
 
I.N. - Arrisca uma profecia para 2002?
 
C.B. - Não, eu não sou profeta.
I.N. - Chico muito obrigado e um abraço.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

HELDER, o Dom da Partilha.


 
 
 
 

HELDER, o Dom da Partilha.


 

Não passaram pela Terra pessoas que pensaram mais nos outros que em si própria, nem passaram pela Terra pessoas que acreditaram visceralmente na palavra de Cristo mais que nas suas próprias convicções, nem que se deram sem limites para que os mais necessitados tivessem alguma chance.

Não passaram por este tempo da história pessoas que encontraram sua razão de ser na vida dos pobres, nem que se esvaziaram a si mesmas para que pudesse nascer e crescer a fraternidade entre as pessoas e os povos. Estas pessoas não passaram por nós. Estas pessoas não passaram.

Estas pessoas estão conosco, estão na Terra e na história para sempre. Estão além do tempo e do espaço, além da lembrança e da gratidão. Estão inseridas no Amor, que a tudo contempla e plenifica.

É difícil, para algumas gerações incrédulas, acreditarem que pessoas assim existam. Para estas gerações, tais pessoas habitam no imaginário, nas lendas e nos contos sacros e piedosos. Não imaginam que suaram, sangraram, verteram esperanças e consolo por todo o seu caminhar. É Francisco, é Vicente de Paulo, é Helder Câmara e tantos outros.

O eterno Dom de Olinda e Recife perpetua-se nas suas obras e inspirações. Patrimônio humano, do sagrado e do social, continua gerando atitudes e ações em prol dos mais necessitados, dos injustiçados, dos renegados, dos órfãos da sociedade.

Assuero Gomes

domingo, 2 de setembro de 2012

Dom Helder, o centenário e os trabalhadores de última hora... Dom Helder, die Hundertjahrfeier und Arbeiter last minute...Dom Helder, the centenary and workers last minuteDom Helder, the centenary and workers last minute


 
from Youtube
 
 
 
Dom Helder, o centenário e os trabalhadores de última hora
Dom Helder, die Hundertjahrfeier und Arbeiter last minute
                                                           Dom Helder, the centenary and workers last minute

Com a aproximação do centenário de nascimento de Dom Helder Camara em fevereiro próximo e o afã de seus admiradores e outros ligados à estrutura da Igreja em prestar-lhe uma justa homenagem, me vêm à mente duas coisas: a primeira é a parábola dos trabalhadores de última hora e a segunda é um pensamento de Padre Arnaldo Cabral.

Na parábola identificamos o pai de família que vai buscar trabalhadores para sua vinha na praça da cidade. Contrata-os por uma diária estipulada para a época (1 denário) e à medida que o dia vai passando ele retorna à praça e vai chamando os desempregados e a todos dá o mesmo pagamento, mesmo com diferenças gritantes  de horários de trabalho.

Em analogia vejo o IDHeC (Instituto Dom Helder Camara) como os trabalhadores de primeira hora, aqueles que sempre estiveram ao lado do nosso arcebispo nos momentos mais tenebrosos quando era perigoso e maldito estar junto de um profeta “chamado” vermelho.

A CNBB seria os trabalhadores de segunda hora: entidade idealizada e fundada pelo próprio Dom, para dar mais autonomia e liberdade aos nossos bispos e principalmente uma maior resolutividade aos problemas gritantes do Povo de Deus.

A Arquidiocese de Olinda e Recife seria os trabalhadores da undécima hora (última hora).

A parábola segue contando que muitos são chamados...

Dom Helder no seu espírito imenso e imerso na generosidade e misericórdia de Deus, certamente ficará feliz e agradecido por toda e qualquer manifestação em memória de seu trabalho, no espaço de tempo que o Senhor lhe permitiu. Ficará um pouco constrangido com as loas à sua pessoa, mas as perdoará, pois terão sido manifestações, as sinceras, do carinho de intelectuais, dirigentes, assessores, funcionários. Não julgará intenções, pois seu coração infantil não conjuga este verbo.

Apreciará, sem dúvida, celebrações da santa missa, celebrações ecumênicas, manifestações culturais, livros, artigos, memoriais, procissões, simpósios, semanas, jornadas, cultos, seminários, etc.

Nada dirá, no entanto, pois seu espírito nunca foi esse, sobre o esquecimento dos trabalhadores de todas as horas, acerca dos Pobres. Sua fome e sua miséria. Seu subdesenvolvimento, seu perambular nas ruas e calçadas, desnudos e sedentos. Suas prisões sem visita. Ficará triste e pedirá ao Pai, “perdoe-lhes, eles não sabem o que fazem”.

A segunda coisa que me veio à mente, foi o pensamento de Padre Arnaldo Cabral, que certa vez o expressou na frente do Dom com os padres de nossa arquidiocese naquele tempo “o problema, Dom Helder, é que todos nós o admiramos, mas nenhum de nós o imita”. E a parábola em dado momento diz: ... encontrou ainda outros que estavam desocupados, aos quais disse: Por que permaneceis aí o dia inteiro sem trabalhar? – É, disseram eles, que ninguém nos contratou. Ele então lhes disse: Ide vós também para a minha vinha.

Talvez nossa Igreja demore mais cem anos para dimensionar, com justiça, o homem e sua obra, a obra que Deus realizou no seu povo através dele. Certamente Olinda e Recife, como cidades impenitentes que são, não mereceram Dom Helder. Continuam sem merecer, pois excluindo os Pobres e negando-lhes a dignidade de filhos e filhas de Deus, se dizem cristãs. O Dom se alegrará mais com cada copo d´água oferecido a um destes pequeninos...

Em 15 de abril de 2008
 

Assuero Gomes