Igreja,
pão e circo...
O pão de Jesus é aquele que dividido se multiplica.
É o pão da partilha. O pão dos césares é aquele que é distribuído para
alimentar a dependência e a subserviência. É o pão da exploração.
César manda seus escravos distribuir seus pães na
multidão que, distraída, assiste aos espetáculos circenses, como num grande
ringue.
Jesus distribui, Ele mesmo, seu pão, ao povo, que
organizado e livre, participa e constrói condições para que a vida floresça e
permaneça.
Os césares precisam de palco, de trono, de incenso,
de títulos, de vestes longas, pomposas, tiaras, coroas, cetros, sacerdotes e
vestais. Trombetas e alaridos anunciam sua presença e sua magnanimidade na
distribuição dos pães no circo.
Jesus partilha seu pão no meio do seu povo, como um
deles.
No espetáculo circense há feras digladiando-se com
homens, homens virando feras deles mesmos, há delírios da plateia, há sangue
escorrendo, há dentes rangendo e dentes gargalhando, há pão desperdiçado, há
disputa de público, há torcida e fanatismo. O pão dos césares é o pão do circo.
Na partilha do pão de Jesus há as feras que transformam-se
em humanidade. Não há disputa. O espetáculo da Vida acontece na comunidade, na
igualdade fraterna das diferenças individuais que se complementam no coletivo.
O pão de Jesus é o pão da comunidade.
O pão dos césares é produzido através de impostos,
de dízimos, de coletas, de ameaças, de coações, de benesses, pois o espetáculo
do circo é caro, muito caro. O pão de César escraviza. A roupa de César e sua
tiara cravejada é muito cara, sua coorte é muito cara, seu palácio, seus
museus, é tudo muito caro. Sua cidadela fortificada é muito cara. Sua estrutura
de poder é muito cara. O pão de César é muito caro.
O pão de Jesus é gratuito, como o pão anunciado de
Isaías, como o maná. O pão de Jesus alimenta e dá coragem. A estrutura de
Jesus, onde Ele partilha seu pão, é simples: o coração de cada mulher e de cada
homem, de cada criança, cada família. Um pão de Graça. A tiara de Jesus custou
seu sangue e jamais o sangue do povo. Uma tiara de espinhos. A coorte de Jesus
é seus amigos e seguidores e sua cidadela é o universo. Seu poder é o serviço.
Seu palácio, seu templo, sua roupa é a rua, o ar livre, a roupa de quem está nu
e precisa ser vestido. Seu prato é o prato que espera o pão.
O pão de Jesus liberta.
César se sente bem no circo. Lá ele é o dono, é o
senhor do circo. Lá ele doma, oprime e seduz. Lá a plateia aplaude em romaria e
ovaciona o senhor do circo e paga caro pelo seu pão corrompido.
Jesus se sente bem na casa do pobre, nas pequenas
fraternidades, no coração de quem serve com alegria. Jesus parte seu pão e Ele
mesmo lho dá, no silêncio de seu coração, na misericórdia e na compaixão, a
quem o deseja receber.
Assuero Gomes
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