Quando fevereiro chegar...
Quando fevereiro chegar, os
flamboyants e as acácias ainda estarão em festa, vestidas de natal. Os
cavalinhos azuis estarão nos carrosséis dos nossos corações, os blocos
derramarão saudades pelas ladeiras infinitas. Os pombos estarão voando com seus
lenços brancos.
Quantas bandeiras serão
carregadas e voarão aos ventos de fevereiro? Uma misteriosa alegria contagiante
de um povo sofrido perspassará o coração de muitos e brincarão suas
brincadeiras fugidias, no delírio de quem já vive 361 quartas-feiras de cinzas
no ano.
A figura de um profeta alegre e
amoroso pairará sobre os fevereiros de nossas vidas, sobre os carnavais de
nossas vidas, sobre as cinzas de nossas vidas, mostrando sempre um caminho de
alegria preparado por um Deus compassivo e misericordioso.
A presença viva de um cristão
ressuscitado, em um tempo grávido de centenários em flor. Um fevereiro, um
jovem pastor quase secular, uma saudade infinita banhada numa presença
infinita, quando fevereiro chegar...
Serão padres, serão leigos, serão
ricos, serão pobres, homens, mulheres, crianças, são e doentes, mendigos, será
uma só agremiação do amor de Deus, que desfilará nesta avenida chamada vida,
com suas carências e alegrias, seus desencantos e amores, suas esperanças e sua
poesia. São blocos de passistas sem fronteiras, sem medo, sem remorso, sem
culpa. São caboclinhos desencarnados de sua vida miserável que invocam o som
das florestas perdidas, são negros quilombolas e seus batuques silenciosos, que
acordam a consciência de uma nação. Sobre eles derrama, o seu pastor, uma chuva
de bênçãos, de consolo, de acalanto, como uma cantiga de ninar, como uma brisa
do mar.
Vem! Fevereiro, traze-nos logo
teu sopro, teu vento, teu espírito, como nos trouxeste há 99 anos. Cá estamos
carentes de um pouco de luz, de afeto e de alegria. Traze logo uma igreja
peregrina e pobre, que se admire com o brilho do caboclo-de-lança e abomine o
brilho do ouro das tiaras e das pedras preciosas incrustadas nas mitras e nos
báculos.
Quando fevereiro chegar, quero
ter uma visão, destas que se tem nos desertos sedentos. Quero ver o
sacerdote-pastor-profeta, vestindo sua batina creme, abençoando seu povo na
porta da igrejinha das Fronteiras, com um sorriso largo e um abraço do tamanho
do mundo.
Quando fevereiro chegar...
Assuero Gomes
Assuero Gomes
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