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domingo, 6 de janeiro de 2013

Gula e temperança, dos pecados do Capital.


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Gula e temperança, dos pecados do Capital.

 

Esse “pecado” aos olhos medievais está ligado ao ato de comer e desejar comer muito, mais e cada vez mais. Foi relacionado também ao desejo de possuir em detrimento da falta que o próximo sente.

Hoje sabemos, nem tanto quanto deveríamos, que o desejo insaciável de comer e sua consequência trágica que é a obesidade, está muito mais relacionado a distúrbios metabólicos e afetivos do que à maldade e à falha de caráter ou de religiosidade. Podemos, no entanto, analisar esse problema do ponto de vista do capitalismo. Enquanto uma pequena parte do mundo consome desenfreadamente os alimentos, e de maneira errada, a grande parcela da população mundial passa fome, literalmente, não ingerindo nem o mínimo para se manter viva durante poucas semanas, além da escassez da água potável. Fome e sede para mais de um bilhão de seres humanos enquanto alguns milhões estão obesos incentivados pela indústria e pelo marketing.

A quantidade de alimento produzido e o que se deixa estragar por falta de conservação, transporte e distribuição, dá para alimentar com fartura todos os seres humanos. O que falta é a partilha. Ampliamos a noção de “pecado” individual para coletivo.

No âmbito individual, a gula moderna está refinada e disfarçada, muito bem por sinal. Não mais comer em quantidades exageradas, mas comer o “especial”, o inacessível para a maioria dos mortais, numa verdadeira idolatria à boa mesa.

Não é por acaso que se divulga e investe tanto em gastronomia, como jamais aconteceu. Verdadeira fortuna se gasta por um jantar a dois, custo esse que daria para alimentar com tranquilidade mais cem pessoas.

Quando pagamos, por exemplo, por uma especiaria como o açafrão algo em torno de R$ 150.000,00 o quilo, ou R$ 2.000,00 por um quilo de trufa branca, ou ainda R$ 2.500,00 por um quilo do café da Ilha de Sumatra, chamado de Kopi Luwak  ou milhares de dólares por um vinho, e assim por diante, creio eu ser esse o atual pecado da gula produzido pela idolatria ao capital.

A temperança é a virtude contraposta à gula. Além de ser uma conduta saudável, que gera harmonia, associada à caridade, no sentido verdadeiro dessa palavra, de promover o desenvolvimento social e não apenas dar esmolas, equilibra o nosso ser, nosso corpo e o ambiente no qual vivemos nesse curto espaço de tempo que nos é dado por Deus, antes da vida definitiva.

 

Assuero Gomes


Médico e escritor

 

 

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