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quarta-feira, 29 de maio de 2013

A VIDA DE CORPUS CHRISTI, por Geraldo Frencken


 
 
 
 
 
A VIDA DE CORPUS CHRISTI

 

Ver (um fato verdadeiro)

Há muitos anos, um padre, lá pelas bandas da Amazônia, encontrava-se diante de um dilema: como celebrar a festa de Corpo de Cristo com a bela procissão, segurando o Cristo Sacramentado, andando por caminhos, cobertos de belas e cheirosas flores em forma de tapetes bem desenhados, enquanto aquela procissão havia de passar, necessariamente, em frente aos cortiços sujos, malcheirosos, nos quais muita gente “vivia” empilhada? Tamanha contradição e, pior, incoerência! Após muita reflexão, o padre tomou a corajosa decisão. Em lugar de realizar a tradicional procissão do ‘Corpo Cristi’, deu início à Missa daquele dia de festa, e, após a leitura do Evangelho, convidou o povo da Missa para sair da Igreja, a fim de visitar o povo no cortiço. Era razoavelmente perto. Formou-se, de forma espontânea, uma bela procissão. Dentro daquele mundo subumano, o povo do cortiço ficava admirado com tanta visita irmã, enquanto o povo da Missa ficava entristecido, cabisbaixo, chocado e até revoltado ao perceber tanta miséria, pobreza, mau cheiro, tanta falta de respeito para com o ser humano. Muitos do povo da Missa passavam, diariamente, em frente àquele cortiço, mas nunca haviam procurado entrar, a fim de visitar aquele povo lá dentro. Pois bem, após uma meia hora, uma parte do povo do cortiço se juntava ao povo da Missa e juntos foram até a Igreja! Aquela Missa, tradicionalmente rezada, transformou-se numa verdadeira celebração eucarística, ou seja, Jesus, agora sim, se fazia presente em todo o esplendor do seu amor junto aos seus irmãos e suas irmãs.

 

Julgar (uma possível abordagem)

http://blog.cancaonova.com/emanuel/files/2011/06/partilhar.jpgA tradição da nossa fé nos ensina que Jesus pronunciou, naquela Última Ceia, as seguintes palavras: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22, 19). O que significa o “fazei isto”?

Para encontrarmos uma resposta, precisamos nos perguntar qual o significado da Eucaristia.

A palavra grega ‘eucaristia’ se refere à ‘ação de graças’. Trata-se do momento em que a comunidade dos que crêem na presença de Jesus na Eucaristia celebra o memorial da morte e ressurreição de Jesus. Portanto, na celebração da Eucaristia se celebra a Nova Aliança estabelecida entre Deus e a humanidade por meio do sacramento do amor definitivo de Deus para conosco, expresso e vivido na morte e ressurreição de Jesus. Esta “Aliança”, este acordo, ou pacto, diz respeito à união firmada entre Deus e nós, nós e Deus, “aquele Deus verdadeiro que amou-nos primeiro sem dividição”, como canta Pedro Casaldáliga na abertura da “Missa dos Quilombos”.

A Eucaristia é uma ação de graças, ou seja, um momento em que vivemos a graça da presença de Deus em nossa vida, assim como a presença de cada um de nós na vida do(a) outro(a), em nossa vida comunitária. Mas este é apenas um lado do sacramento, como de todos os sacramentos, pois todos eles são graça em e para nossa vida. O outro lado do sacramento, porém, constitui uma tarefa, uma missão, uma maneira de ser e de estar no mundo, na qual a graça se concretiza. E esta maneira de ser é exatamente aquilo a que Jesus se refere quando diz “Fazei isto”: vocês também devem olhar o outro, interessar-se por ele, fazer com que o outro seja importante, isto é, vocês também devem doar-se uns aos outros. É esta a verdadeira partilha eucarística e é nela que Jesus e o Pai se fazem presentes em nossa vida e nós na vida dEles.

Consequentemente, Eucaristia é celebrar, renovar e viver intensamente a vida, tornar efetivo o gesto amoroso de Jesus pela prática das ações concretas de amor entre nós, porém, em especial para com os empobrecidos, os excluídos e rejeitados da nossa sociedade.

 

Agir (uma idéia)

            Conforme secular tradição, a Eucaristia é celebrada entre nós em forma de “Missa”. Longe de eu querer desvalidar ou desvalorizar a celebração da Missa. Porém, permitam-me observar que todos nós temos assistido, e ainda assistimos, a Missas, durante as quais são cumpridos os cânones, seguidas as regras e executados os ritos, mas, muitas vezes, sem ligação com a nossa vida, sem paixão com a Paixão de Cristo. Será que desta forma “acontece” a nossa aliança com Deus ou nos aproximamos do amor em Jesus Crucificado e Ressuscitado ou, ainda, construímos a base de uma vivência amorosa entre nós?

http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTRxTcbuXeeLTJd1macPgTgIaxYLIHkafN4nXnRxx4dheUsegkHgAEnfim, quero perguntar com muita seriedade e sinceridade: quando nós, padres casados, vamos criar coragem para celebrar a vida da Eucaristia entre nós e juntos com o povo, sem recorrermos aos que ainda se encontram no ministério? O que houve, ou há, para considerarmos que fomos afastados tão definitivamente do amor de Deus para conosco ao ponto de nos acharem, ou de nos acharmos a nós mesmos, impedidos para celebrar nosso amor para com Ele na Eucaristia? Qual sombra escurecedora, assustadora ou pecaminosa foi jogada sobre nossas vidas para sermos considerados, definitivamente, os “ex”, como se o futuro, construído a partir do momento em que optamos por outros caminhos, não valesse nada, ou como se fosse possível dividir a vida em parcelas, sendo que uma não teria nada a ver com a outra?

O belo documento dos padres casados, apresentado ao Papa João Paulo II durante o X Congresso Eucarístico Nacional em Fortaleza em julho de 1980, dizia: “Também nós, padres casados, migramos como Abraão. Deixamos uma terra e o fizemos em nome do nosso Deus. Na outra terra, onde vimos habitar, na nova situação em que agora desenvolvemos outra vida, cultivamos a presença do mesmo Deus, na convicção de que Ele nos inspira, nos acompanha e continua conosco. Somos outros e, no entanto, como Abraão, continuamos os mesmos. Nos dois estados, padres celibatários ontem, padres casados hoje, Deus permanece.”

 

Devemos ficar atentos para que a Eucaristia, o sacramento do amor definitivo de Deus para conosco não suma debaixo de cânones, regras e ritos, tirando-lhe a sua essência: a vida compartilhada entre Deus e nós.

            Devemos ficar vigilantes, pois há um imenso abismo entre rezar a Missa e celebrar a Eucaristia. Se quisermos ser fiéis à Última Ceia e nos abrigar nos braços de Jesus, torna-se necessário de termos clareza sobre esta questão, a fim de fazermos a opção certa.

 

Fortaleza, 28 de maio de 2013,

Geraldo Frencken

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Bento e Francisco, o Papa






Bento e Francisco, o Papa



Devemos olhar com muito cuidado e largueza de espírito, carinho e alegria para o momento que a Igreja está passando. Coisas ou sinais muito importantes e impactantes na estrutura estão acontecendo.
Jamais pensei em presenciar dois papas dialogando, um renunciando e o outro assumindo numa postura de humildade e coragem, ambos criando uma tensão benéfica para o enfrentamento à situação de Pecado que a Igreja chegou.
Devemos vivenciar esse momento único, pois outro não haverá, atentamente, tomando partido e assumindo nosso protagonismo. Retirar da gaveta da alma termos como Povo de Deus, Libertação, Comunidade, Igreja dos Pobres e assim por diante. Caminhar é preciso, construir atalhos, desviar de caminhos preconcebidos, anunciar uma esperança aos pobres, livrá-los dos falsos líderes e colocar Jesus à frente da marcha, para a Terra Prometida, que é aqui e agora.
Quem vive vê o Espírito!
Assuero Gomes

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Sobre a Saudade...


                         
                                              mural Tributo a Gaudí  - Simepe PE Brasil                                            

 
 
 
 
Sobre a Saudade
 
A saudade às vezes pesa demais, pois nem sempre é só cinzas ou papel desbotado, nem música nem olhar; às vezes corta ou apunhala traiçoeira, como uma palavra inesperada num momento inoportuno.
Pode ser sutil ou atrevida, inconstante ou perpétua, mas lateja, arde e queima, devagarzinho assim como quem não chega, chegando, no inverso universo do espelho onde quem parte está voltando e quem vai chega, mas quem chega já partiu.
A saudade às vezes pesa tanto que tem que se dividir com alguém, uma saudade partilhada, para se sobreviver. Um vento que sopra contra a face pode trazê-la, numa tempestade ou num acalanto. Mantêm-se incógnita por muito tempo, assim latente e como um peregrino que chega ao seu destino se inflama em transe e bate no dorso como a ponta do suplício. Dói, como dói, entre partidas definitivas ou entre lapsos de tempos vazios de espera.
Saudade é a presença ausente, é o desafeto do afeto, é a dor doída e a lágrima retida.
A saudade é irmã fatal da solidão, como nesse depoimento colhido entre lágrimas secas:
“... e a solidão era tanta que eu perguntei a ela qual o momento no qual estivéramos mais unidos. Ela abanou a cabeça como se não soubesse ou como se não importasse. Eu lembrei então de toda nossa trajetória juntos. Havia se passado uns bons cinquenta anos, talvez cem, ou a eternidade, talvez trinta para não exagerar, mas é porque quando se está só, o tempo se torna turvo.
Continuei falando sozinho, como se não houvesse mais ninguém na sala, nem no quarto. E realmente havia?
A ironia é que depois de muito pensar, descobri que o momento em que estivemos mais unidos, foi no momento da separação, um pouco depois do natal, quando deixamos nosso filho e voltamos sozinhos para o outro lado. Escondíamos nosso choro silencioso um do outro e dele. Foi uma cumplicidade extrema e ela, a solidão, e eu, jamais fomos os mesmos a partir daí. Por mais que nos aproximássemos ela se afastava e eu também ...” Ou ainda: “ sempre nos restará os momentos que passamos juntos, esses ninguém nos poderá roubar”.
Há saudades suaves, mornas, tênues, que acariciam nosso coração. São lembranças de um tempo que não retorna, são momentos que pareciam tão insignificantes, gestos banais, lugares comuns, guardados amiúde, perfumes fugazes, e agora retornam para nos consolar. Saudade de pessoas que nos fizeram bem, que foram como anjos de almíscar que deixaram suas impressões benéficas nas nossas vidas e seguiram em frente.
A saudade preenche os espaços vazios dos corpos celestiais e dos nossos, é a sabedoria do sentir, o consolo do desespero, enfim, a saudade é tão humana, tão humana, que move nossos corações e destinos para o Criador.
 
Assuero Gomes
Médico e escritor.
 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

PADRE JOSIMO MORAIS TAVARES por Geraldo Frencken


PADRE JOSIMO MORAIS TAVARES

 



 

            No próximo dia 10 de maio completam-se 27 anos da morte por assassinato do PADRE JOSIMO MORAIS TAVARES. Desejo refletir um instante sobre mais este sangue derramado sobre o solo brasileiro.

            Josimo, nascido em Marabá (PA), recebeu a ordenação para o serviço no meio do povo em 1979. Logo em seguida foi nomeado para trabalhar numa área cheia de conflitos de terra, região situada, hoje em dia, no norte do estado do Tocantins, chamada de ‘Bico do Papagaio’. Ele se tornou um dos coordenadores da Comissão da Pastoral da Terra (CPT), com sede na cidade de Imperatriz (MA). Em abril de 1985 recebeu ameaças de morte, que se concretizaram logo em seguida, no dia 10 de maio daquele mesmo ano, quando Padre Josimo covardemente foi assassinado, pelas costas, ao entrar na sede da CPT. O pistoleiro e mais quatro envolvidos foram presos e condenados a 18 anos de prisão. Os mandantes, porém, sendo eles dois fazendeiros e um juiz, nunca foram chamados, nem para prestar algum depoimento.

            Estes fatos ocorreram há 27 anos. Talvez alguém pergunte, porque relembrar um acontecimento de tanto tempo atrás e tão distante da nossa vida.

            Precisamos ficar bem informados sobre o que acontece em nosso país. A morte de Padre Josimo não é um fato isolado e distante de nós, ou então um assunto que não interessaria. O relatório da Comissão da Pastoral da Terra de 2011 (ainda não disponho dos dados sobre o ano de 2012), a respeito da situação em que se encontra o homem no campo, nos dá uma idéia da realidade vivida por tanta gente. Apresento apenas os dados mais alarmantes e preocupantes:

Ø  em 2011 foram assassinados 29 camponeses, isto é, gente pobre e simples do campo; destes 29, só no Pará foram ceifadas doze vidas;

Ø  foram registradas 347 ameaças de morte de trabalhadores rurais;

Ø  89 trabalhadores do campo foram presos em 2011;

Ø  215 foram agredidos;

Ø  em total foram envolvidas 603.355 pessoas em conflitos de terra, sendo quase a metade nos estados do Nordeste.

A situação no campo é de total insegurança, de guerra, de morte. A cada ano o número de assassinatos aumenta, a quantidade de conflitos cresce. Mortes sempre do lado dos posseiros e pobres agricultores. Do lado dos fazendeiros e poderosos, dificilmente alguém é preso. O famoso massacre, em 1996, de Eldorado dos Carajás, no Pará, no qual foram assassinados 19 posseiros, ainda não resultou na prisão de todos os envolvidos por parte da Polícia Militar do Pará. O processo em razão da morte da irmã Dorothy Stang, morta em 2005, ainda não resultou em justiça de verdade. Não aquela justiça triunfante de prender algum assassino ou, muito raramente, um mandante de assassinatos.  A verdadeira justiça acontece, como nos diz Dom Helder, “quando acabam as grandes injustiças de uns sem saber o que fazer com tanta terra e milhões sem um palmo de terra para morar” (em sua súplica “Mariama”, da Missa dos Quilombos). Justiça se concretiza quando, no campo, os pequenos agricultores com suas famílias possam possuir um pedaço de chão suficiente para o sustento de sua família, a fim de construir vida digna, isto é, com condições para lavrar a terra e escoar sua produção, com estradas trafegáveis, com educação escolar para os filhos, assistência na saúde para todos, ou seja, quando os governos municipais, estaduais e federal, coloquem em prática, de fato, políticas públicas que visem o bem desta parcela do povo brasileiro no meio da mata amazônica ou no sertão nordestino. Aqui, no Nordeste, essa situação do homem no campo ainda é agravada quando o povo, mais uma vez, passa por um período de seca que aflige milhares e milhares de famílias. Nós nos perguntamos: porque nunca tem dinheiro para fornecer água à população no sertão, ao menos água para beber? Como um governante pode dormir em paz, gastando bilhões e bilhões de reais em estádios, ou para aquele ridículo aquário em Fortaleza (350 milhões de reais!), e em outras obras supérfluas, enquanto o povo não tem nem sequer água para beber, dividindo com os animais o restinho sujo, contido num poço ou em algum açude!? Até quando deixamo-nos enganar por aquela velha e contínua política de “panis et circenses”? Também é preocupante constatarmos que, diante de problemas tão graves, as igrejas cristãs, todas elas, ficam num silêncio cada vez mais ensurdecedor. Ninguém mais fala nada! Não há mais observância da tanta problemática vivida pelo povo. Não há mais senso crítico e, consequentemente, sumiu a denúncia, enquanto sabemos que é de tradição bíblica a denúncia do mal anteceder ao anúncio do bem. Sem denúncia, o anúncio se torna um vazio, sem fundamento e sem sentido, um mero palavratório “como um metal que ressoa, um címbalo retumbante” (cf. 1 Cor 13, 1), pois a verdadeira denúncia é feita por amor.

A morte do Padre Josimo, dos posseiros de Carajás, da irmã Dorothy, de tantos outros e de tantas outras não pode ser em vão. Um dia deverá “raiar o dia, no qual a luz brilhará como a aurora, a justiça irá à nossa frente e a glória de Javé nos acompanhará” (cf. Isaias 58).  Isto, porém, depende também de nós. Não temos o direito de jogar os problemas criados pela própria humanidade lá para cima, para ver se Deus dê um jeito. Ele fez a parte dEle e estará sempre ao nosso lado, se nós fizermos a nossa! Paulo Freire dizia: Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”. Ou seja, o nosso papel não é assistirmos, calados e passivos, o trem da história passar, e sim assumirmos a nossa responsabilidade pela sociedade em que vivemos.

 

Fortaleza, 07 de maio de 2013,

Geraldo Frencken
 
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O que eu sinto é que depois de tanto tempo de governo que se dizia socialista e democrático ainda continue tudo como dantes.
Assuero

quarta-feira, 1 de maio de 2013

DIA INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES


 
 
 
 
01-05-2013

DIA INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES

            Um pouco da história.

O Dia do Trabalho resultou de uma greve ocorrida na cidade de Chicago (EUA) no ano de 1886. A data foi marcada pela reunião de milhares de trabalhadores que reivindicavam a redução da jornada de trabalho de 13 para 8 horas diárias. Dias depois, outra manifestação aconteceu em Chicago e resultou na morte de policiais e protestantes. Três anos mais tarde, em 1889, o Congresso Internacional Socialista, realizado em Paris, adotou como resolução a organização anual, em todo 1º de maio, de manifestações operárias por todo o mundo, em favor da jornada máxima de 8 horas de trabalho.  No Brasil a data é comemorada desde o ano de 1895, mas tornou-se oficial só em 1925. Em 1º de maio de 1940, o presidente Getúlio Vargas instituiu o salário mínimo. Em 1º de maio de 1941 foi criada a Justiça do Trabalho, destinada a resolver questões judiciais relacionadas, especificamente, as relações de trabalho e aos direitos dos trabalhadores.

 

E o dia internacional dos trabalhadores hoje no nosso Brasil?

 

Claro que há avanços, como ultimamente em relação aos empregados domésticos, que, até que enfim, acabam considerados trabalhadores com seus direitos assegurados. Mas é necessário fazermo-nos algumas perguntas: - qual o espaço e o lugar que os trabalhadores ocupam na forma de organização da sociedade brasileira? – como os trabalhadores são vistos e, ainda, como eles mesmos se percebem no projeto de construção de nossa nação?

 

O primeiro questionamento nos leva a notar a existência de duas formas de organização social: a piramidal e a circular. A primeira é aquela que divide a nossa sociedade em grupos. O grupo mais numeroso está na base da pirâmide, produzindo, através do seu trabalho, a riqueza que será usufruída, em sua quase totalidade, por um pequeno grupo de pessoas, aquelas que se encontram no topo da pirâmide, e, por sinal, definem como a sociedade deve ser organizada. O segundo modelo, o circular, cria condições para podermos superar a divisão entre os que produzem a riqueza e os que dela usufruem. Isto pode levar a uma distribuição mais justa das riquezas e, consequentemente, possibilitaria, aos poucos, a diminuição da desigualdade social que marca profundamente nosso país.

O segundo questionamento, que discorre sobre como os trabalhadores são vistos pela sociedade, nos faz pensar a respeito dos direitos fundamentais da classe trabalhadora. O que vemos na realidade brasileira é o grande distanciamento entre o que preconiza a lei em relação aos direitos dos trabalhadores e o cumprimento dessas leis, que lhes garantem condições de vida digna para si e suas famílias. Devemos perguntar: como anda o ensino público, qual a qualidade da saúde pública e do transporte público? As condições de trabalho de muitos trabalhadores são salubres?

 

Enfim, como os próprios trabalhadores se percebem no projeto de todo um processo evolutivo da sociedade? Entra aqui a questão do nível de consciência que eles tem acerca do seu próprio papel e do espaço que ocupam por meio da força do trabalho, nas definições dos rumos da sociedade e, consequentemente, na dignificação de sua própria vida. Em outras palavras, qual o grau de conscientização de sua insubstituível importância na construção de uma sociedade mais humanizada e com um futuro promissor.

 

É importante refletirmos continuamente sobre estas questões, a fim de que todos nós nos tornemos participantes ativos, protagonistas da nossa própria história.

 

Seja, portanto, o dia 1.º de maio não somente um momento de festas e comemorações, mas acima de tudo uma oportunidade para refletirmos sobre a realidade do trabalhador e o que podemos fazer a fim de melhorá-la.

 

           
Geraldo Frencken [geraldof73@yahoo.com.br]