Navegando os espaços vazios...
Onde só os místicos chegavam os cientistas agora aportam. O
universo teve um começo, um início, um tempo inicial. O início do primeiro dia,
numa explosão de luz. Toda a massa concentrada num único ponto, que explode
expandindo-se em luz. O universo se iniciou numa fonte de luz (energia).
Ainda em expansão, à medida que a luz se afastava desse
ponto inicial se transforma em matéria, em corpos celestes, em massas de
hidrogênio em combustão, em estrelas, planetas, cometas, galáxias infinitas.
O que acontece no cosmos acontece no íntimo da matéria. Das
mesmas partículas de energia/matéria, na sua inconstância aleatória, na dança
dos elementos subatômicos, na incerteza de Heisenberg e
nos moldes de Higgs, como um Platão moderno, essas partículas se juntam como
que predestinadas e dão origem aos elementos, e dão origem à vida.
Até aí tudo misteriosamente
perfeito. Algo mais misterioso ainda vale nossa reflexão: os espaços vazios.
Ora, entre os prováveis lugares
que as partículas atômicas e subatômicas ocupam entre si, há um espaço vazio
muito maior que o próprio átomo. Multiplicado ao quase infinito dos átomos de
um beija-flor ou de um pedaço de chumbo, há mais espaço vazio entre tudo que
percebemos do que os corpos sólidos dos próprios seres ou materiais. Se
pudéssemos enxergar microscopicamente até o mais íntimo do íntimo veríamos até
a nós mesmos como uma espécie de móbile sem fio, com energia gravitando
minúsculas partículas transmutadas ora em matéria, ora em luz.
O que é mais intrigante de tudo,
a meu ver, é: o que leva os mesmos tipos de átomos a se agruparem, para
formarem o beija-flor, a flor, o chumbo, o ser humano? É como se tijolos de luz que se juntem e formem casas, praças,
prédios, fontes, estradas, hospitais, clubes, igrejas, castelos e casebres.
Todos, sem exceção, têm mais espaços vazios que concretos.
Alguma coisa serve de amálgama
que une tudo em todos e em cada um, e alguma força como que molda com
antecedência imediata, a substância que vai ser gerada naquele momento. As
forças antagônicas que atraem e repelem já são observadas e estudadas há algum
tempo, mas a força que preenche os espaços vazios...
Creio que a ciência está bem
perto de se encontrar com o Espírito (pneuma) de Deus. Nós sabemos que Ele
perpassa a tudo e a todos, que renova a Criação, que sopra quando e aonde quer,
que destrói estruturas iníquas e soergue a humanidade sofrida no dia a dia dos
humanos, que consola o pobre e liberta o oprimido.
Escrito em Pentecostes de 2013...
Assuero Gomes
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