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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

A NECESSIDADE DE SERMOS CUIDADOS E CUIDADORES, Geraldo Frencken


 
 
 
 
 
A NECESSIDADE DE SERMOS CUIDADOS E CUIDADORES

A Organização das Nações Unidas declarou o dia 06 de novembro “Dia Internacional para a prevenção da exploração do meio ambiente”.

Torna-se cabível, exatamente neste dia, nos interrogarmos sobre o cuidado em relação ao meio ambiente. A toda hora nos chegam informações com dados preocupantes a respeito do processo do degelo dos polos Norte e Sul, da desertificação de extensas áreas de nosso planeta (por sinal no próprio Nordeste), como também recebemos, constantemente, notícias acerca de desastres ecológicos pelo mundo afora.

A fim de aprofundar nossa reflexão, apresento-lhes uma fábula-mito, descrito por Higino, um romano que vivia alguns anos antes da era cristã, isto é, mais ou menos entre 60 e 10 antes de Cristo. Vou transcrevê-la do jeito que a encontramos no livro Saber cuidar de Leonardo Boff (Petrópolis: Editora Vozes, 1999). Eis a fábula-mito:

“Certo dia, ao atravessar um rio, Cuidado viu um pedaço de barro. Logo teve uma ideia inspirada. Tomou um pouco de barro e começou a dar-lhe forma. Enquanto contemplava o que havia feito, apareceu Júpiter.

Cuidado pediu-lhe que soprasse espírito nele. O que Júpiter fez de bom grado.

Quando, porém, Cuidado quis dar um nome à criatura que havia moldada, Júpiter o proibiu. Exigiu que fosse imposto o seu nome.

Enquanto Júpiter e Cuidado discutiam, surgiu, de repente, a Terra. Quis também ela conferir o seu nome à criatura, pois fora feita de barro, material do corpo da Terra. Originou-se então uma discussão generalizada.

De comum acordo pediram a Saturno que funcionasse como árbitro. Este tomou a seguinte decisão que pareceu justa:

‘Você, Júpiter, deu-lhe o espírito; receberá, pois, de volta este espírito por ocasião da morte dessa criatura.

Você, Terra, deu-lhe o corpo; receberá, portanto, também de volta o seu corpo quando essa criatura morrer.

Mas como você, Cuidado, foi quem, por primeiro, moldou a criatura, ficará sob seus cuidados enquanto ela viver.

E uma vez que entre vocês há acalorada discussão acerca do nome, decido eu: esta criatura será chamada Homem, isto é, feita de húmus, que significa terra fértil.’ “

 

O que esta bela fábula-mito pode-nos ensinar?

Aprendemos, por mais uma vez, que nós, seres humanos, somos terra, parte dela, o que significa que formamos uma unidade íntima e profunda com a Terra. Mas devemos entender que nesta unidade, cada uma das partes tem a sua função, a sua missão, porque, embora unidos, não somos iguais.

Entendamos bem: a terra tem por missão sustentar-nos, e ela o faz por nos oferecer seus frutos: ervas, verduras, plantas, árvores, de todas as espécies, gostos e belezas, que, por sua vez, dão origem ao nosso sustento, tornando-se a base da nossa sobrevivência.

Nós, por nossa vez, somos chamados a pensar a terra. Este é nosso lado espiritual, a dimensão que nos faz capazes de refletir sobre a terra, discuti-la contemplá-la e aprender dela. Contemplar a terra, no mais profundo sentido da palavra, significa, portanto, contemplar e entender a nós mesmos, o nosso próprio ser. Isto, no entanto, não quer dizer sermos superiores a ela, uma vez que, quando houver verdadeira unidade, não podem existir superiores e inferiores.

Esta coexistência, este viver numa livre interdependência nos leva ao cuidado: o que seria de nós se a terra deixasse de cuidar de nós, de zelar pela nossa vida? E o que seria da terra se nós não cuidássemos dela?

Nós precisamos de tudo que a terra guarda dentro de si. Toda a riqueza dela é vida, vida dela e vida para nós. Mas precisamos usufruir de toda esta riqueza de maneira bem pensada, com inteligência e respeito, pensando não somente no dia de hoje, e muito menos a partir de uma desenfreada exploração que machuca a terra, porque aprendemos que, ao machucá-la, ferimos a nós mesmos.

Gosto muito de recordar as palavras de Dom Helder, quando ele diz que “Deus decidiu fazer do homem criador ao lado dEle”. Com estas palavras, o Dom interpreta a história da origem do homem e da mulher, como escrita no livro de Gênesis, quando Deus nos cria à sua imagem e semelhança: Deus é criador, portanto nós também o somos. Daí é apenas um passo para entender que aquele que cria não pode explorar, não pode destruir, e, de maneira alguma, impossibilitar a vida daqui para frente. Portanto, procuremos ter, nós homens e mulheres, feitos do húmus, a alegria de CUIDAR da VIDA!

 

Fortaleza, 6-11-2013,

Geraldo Frencken

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