A Copa
do povo, agora e depois
Marcelo
Barros
No mundo inteiro, as pessoas querem entender
porque o Brasil que sempre foi considerado o país do futebol está dividido
sobre esse assunto. A forma como o governo brasileiro e a FIFA se comportaram
na preparação desse Campeonato Mundial de Futebol não levou em conta o
necessário diálogo com a população, nem a realidade de nossas cidades. Mesmo quem
não acompanhou todas as discussões sobre o evento, se solidariza com as
comunidades pobres que, nas várias capitais, sofreram desapropriações forçadas e
injustiças cometidas pelo poderio econômico que se apossou do processo
preparatório da Copa. Para a maioria da população, ficou a imagem de que o governo
entregou o Brasil à FIFA, cuja coordenação não parece primar por ética e menos
ainda por sensibilidade social. A consequência disso é que, provavelmente, o
encanto que o povo brasileiro sempre manifestou para com a Copa do mundo e
principalmente quando a seleção brasileira está em campo, não apareça nessa
copa, do mesmo modo como antes. No entanto, certamente, haverá a Copa da FiFA e
a Copa do povo.
Sobre a Copa da FIFA, certamente vão continuar as
discussões sobre a necessidade de construir arenas gigantescas e caríssimas em
cidades que não têm times nem de terceira divisão. Também a população tem
direito de exigir que as obras urbanas, preparadas para a Copa, sejam não
apenas maquiagem e sim soluções reais para o transporte urbano e para a
humanização de nossas cidades. No entanto, o povo se apossará da Copa e fará
dela um ensaio para um mundo mais irmanado e pacífico.
A Copa do Mundo e o amor ao futebol são valores inquestionáveis.
Assim como, nem por sonho, deixaremos de acolher bem os turistas e todas as
equipes que vêm participar do evento. O futebol é expressão do encontro de
culturas. Leva os povos ao conhecimento uns dos outros e ao entendimento
humano. Apesar do seu caráter competitivo e do fato de que envolve tantas
emoções, às vezes conflitivas, tudo se passa em torno de uma bola e não de
armas ou estratégias militares. As manifestações racistas que, vez por outra, ainda
ecoam nos estádios e os episódios de violência entre torcedores são crimes que
aviltam e desonram a natureza do esporte. Pesquisas revelaram: durante a copa
de 2010, em todas as grandes cidades,
enquanto a seleção brasileira jogava, os crimes e incidentes de
violência urbana foram quase inexistentes, como se toda a sociedade celebrasse
uma trégua social e se unisse em torno do campeonato.
Há quem ainda pense o futebol como se fosse o
correspondente moderno do circo romano, espetáculo pensado para a alienação das
massas. Alguns meios de comunicação tendem a investir nesse caminho. No
entanto, é bom saber: nos anos 70, no auge da ditadura militar brasileira, a
Campanha pela Anistia teve seu começo por uma faixa que apareceu no Maracanã,
no meio de um jogo entre o Flamengo e Fluminense. Do mesmo modo, no Chile, a
ditadura do Pinochet começou a cair a partir de manifestações de torcedores no
Estádio Nacional, durante uma partida de futebol.
É claro
que, atualmente, o futebol não é mais o mesmo. A Copa da FIFA se tornou um dos
mais rendosos negócios do mundo. E os jogadores são vendidos e comprados, como
objetos de consumo. Mas, o povo é capaz
de manter a consciência crítica e ganhar o jogo para a sua causa. Sem dúvida, a
maioria dos brasileiros torcerão por nossa seleção e pela vitória do Brasil. Ao
unir Copa e a justa exigência dos seus direitos, o povo brasileiro revelará que
sabe exercer sua cidadania. Mostraremos aos estrangeiros que o Brasil não é
apenas o país do samba e do futebol. Para os brasileiros, essa Copa e seu clima
de festa se prolongarão. Serão um ensaio de um gol diferente para o Brasil. Na Semana
da Pátria, os movimentos sociais coordenarão uma campanha de assinaturas
pedindo um referendo sobre uma nova Constituição soberana que poderá fazer a
reforma política e outras reformas estruturais necessárias para um Brasil novo
e mais soberano. E aí sim a Copa será do povo e de forma mais profunda. Quem é
cristão, se lembrará de uma palavra do apóstolo Paulo: “os jogadores lutam por
uma copa perecível. Nós lutamos por uma copa que não passa” (1 Cor 9, 24- 25).
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