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sábado, 17 de outubro de 2015

Dia do Médico








Médico




Ali onde não se quer estar, junto ao sofrimento e à dor. Ali na urgência de corpos partidos e do sangue derramado, das feridas não cicatrizadas, onde das crostas mana secreções fétidas e pouca esperança; onde o desespero grassa e ninguém quer estar.
Onde o dinheiro desviado pelos podres poderes faz falta. Falta faz também gaze e soro, antibiótico, raio X, roupa limpa e cama decente. Onde falta vergonha a uma nação que abandona seus filhos na miséria após enganá-los com promessas não cumpridas e planos mirabolantes para desvio de recursos. Ali, ali mesmo, entre mutilados, semimortos, mulheres parindo, chão sujo de sangue e placenta, três pessoas se encontram: o doente seu médico e a enfermeira.
Nunca na história desse país uma classe de trabalhadores foi tão atacada e aviltada por um governo e por um partido como a classe médica. Motivo de orgulho para qualquer nação, por não se curvar a negociatas tenebrosas, sofreu e sofre uma perseguição exposta e também velada como certas fraturas que impedem um povo de se manter de pé. Apesar de tudo o povo que precisa sabe, que na hora mais angustiada e também nas mais felizes, ali estará um ser humano junto a ele, repartindo sua dor e seu suor, seu conhecimento e seu cansaço, driblando a escassez e dando o melhor possível de si.
Não são anjos nem demônios de branco, apenas humanos, apenas humanos, com suas dores e alegrias, suas agonias e seus êxtases, seus limites imponderáveis. Suas necessidades confundidas com sua exaustão e a de seus pacientes.
Passarão certamente por algum momento pela vida de todos. Desde o início, nas cavernas de antes até as estações espaciais de hoje, a fragilidade humana o requer.
São heróis para os que salvam ou para os que minoram as dores, são faltosos para os próprios filhos e família, pois lhes roubam o tempo de convívio. Mas serão sempre admirados, mesmo que o presente diga não, a eternidade dirá sim, e certamente seus filhos pequenos se revoltando contra aquela paixão que lhe tira o pai ou mãe, serão futuros médicos muitas vezes.
Penso em quantas horas de sono na formação acadêmica e quantas outras horas mal dormidas ou sem dormir em plantões infindáveis.
Penso no primeiro instante de vida, ainda no ventre materno, o médico já está ali perscrutando e no último momento talvez num leito de UTI, ele junto, em alguns casos até depois quando o paciente já no convívio de Deus, com seu corpo inerte e o médico ainda trabalhando para elucidar a causa do óbito. Do berço ao esquife. Da vida à vida.
Os tempos obscuros e vadios vão passar, os poderosos serão despedidos de mãos vazias, os corruptos conhecerão o excremento da história, mas a nação permanece, o bem prevalece, a Vida dá a última palavra, e vida é a especialidade desse profissional, que está ali, onde ninguém quer ficar.  


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