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quarta-feira, 14 de junho de 2017

Arnaldo Cabral, um padre, um amigo e mestre.










                                        Ivone Gebara, José Augusto, Comblin, Arnaldo



Arnaldo Cabral, um padre, um amigo e mestre.




Por que não esperaste por novembro, meu amigo? Teu mês é novembro, como o verão, como o mar que miras do Seminário de Olinda, desde que te encantaste e te tornaste em coqueiro de alvas folhas em palmas, guardião daquela casa e daquele mar. Pudesse eu te reter aqui colocaria no frontispício dessa casa: “Aqui mora eternamente Padre Arnaldo Cabral”. Certamente a Matriz do Espinheiro ficaria com ciúmes, mas aquele que tem um coração tão grande caberia morar também naquela igreja.
Agora não importam os novembros que passarás longe de nós, nem importa mais contar os anos de uma longeva vida dedicada à Igreja. Agora estás fora das garras e amarras do tempo, da dor, do envelhecimento, da limitação. Só uma mente privilegiada como a tua superada apenas por um coração de graviola (tu bem sabes a que me refiro) de um imenso amor, é onde habita neste instante eterno, no recôndito do Altíssimo.
Que mistério tiveste em esconder dos mais afastados teu espírito afável e teu humor refinado, envolvendo-te numa capa austera de implacável autocontrole, capa esta que desvencilhada pela amizade dos que te são eternamente próximos logo mostrava um coração doce, uma amizade sincera e uma admiração cada vez maior e mais profunda.
Tanto serviço serviste a essa Igreja desde longas homilias que fazem falta até hoje, à formação de jovens seminaristas amedrontados nas primeiras aulas com a severidade do professor e diretor espiritual que depois se tornaram homens de bem, e aqueles que perseveraram espalharam conhecimento e dedicação como padres , foste mestre de bispos e muito mais, mestre de admiradores.
Já estás entre teus amigos e irmãos, Marcelo Carvalheira, Miguel Valverde, Antonio Morais, Carlos Coelho, Lamartine, Helder Camara, Pe. Henrique, Comblin, teu pai e tua mãe, e entre teus pobres, meninos de rua do Espinheiro. O Projeto Salvação, o Cursilho de Cristandade, Iter, Serene II, o Dom da Partilha, e tanto e tanto mais que levas contigo na tua derradeira bagagem.
Quanto aprendi de ti?! Especialmente a amar esta Igreja e a conhecê-la melhor, a respeitar as nossas e as limitações dos outros, a rir com as histórias dos bastidores eclesiásticos, do passado que em nós são presente sempre. Aprendi e não segui teu rigor na austeridade consigo mesmo, lembro com carinho de teu alívio quando D. Saburido te dispensou (devido à idade e saúde) de rezares o breviário diariamente como obrigação e como ficaste alegre com sua visita.
Hoje a Igreja de Olinda e Recife está mais pobre, o Seminário a ser reconstruído, e a Matriz do Espinheiro mais triste. Tenho pena daqueles que não vão te conhecer mais de perto. Não gostavas de escrever, o dom maravilhoso da oratória fez tuas palavras ficarem guardadas nos nossos corações, mas penso quando todos formos embora... isso eu falava muito contigo.
Acabo te pedindo perdão pela minha fraqueza de não ter ido te visitar mais vezes nos últimos tempos: doía-me muito ver o esquecimento turvar uma mente como a tua que admiro e admirarei sempre. O discípulo fraco não absorveu tudo do mestre. Reze por mim e por todos nós, teus amigos, alunos e admiradores, sempre!

Assuero Gomes

Cristão católico leigo
da Arquidiocese de Olinda e Recife



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