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segunda-feira, 31 de julho de 2017

33 Minhas memórias da Igreja de Olinda e Recife 33


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33 Minhas memórias da Igreja de Olinda e Recife 33



Durante todos esses anos que participo da Igreja, posso afirmar que a imensa maioria é de pessoas (padres, religiosos e religiosas, diáconos) boas e que com fé fazem seu serviço para o próximo, mesmo que indiretamente pela Igreja.
Minha jornada é longa e nunca me arrependi, faria tudo outra vez, de maneira melhor. Cresci com a Igreja e na Igreja. Mas ela é feita de homens e mulheres com todos os nossos defeitos e virtudes misturados no joio e no trigo, no veneno e no medicamento, na luz e na treva.
Continuo afirmando que o maior de todos os mistérios teológicos, não é outro, senão o amor que Jesus tem por ela e mantém inalterado desde Pentecostes. Quanto mais o pecado grassa, mais a graça é derramada.
Presenciei ou tive notícias (confirmadas por mais de duas fontes independentes) de alguns escândalos. Alguns denunciamos no jornal Igreja Nova ou mesmo através de documentos para o Vaticano ou para a Nunciatura em Brasília. Outros ainda registrei de maneira romanceada nos meus livros. Alguns me chocaram mais, outros eram bem leves, bem humanos. Serviram para solidificar minha fé e minha misericórdia, ao invés de me afastar da Igreja.
Vou registrar os que me lembro ainda, pedindo para declinar os nomes dos protagonistas, mesmo porque a maioria já está nos braços amorosos do Pai.
O pior, o seminarista Roberto que se suicidou ateando fogo no próprio corpo, o qual visitei, já nas últimas, no Hospital da Restauração, com mais de 70% da área corporal queimada. Teve esse gesto de desespero ao saber que não seria ordenado pois seu bispo, na última hora assim o decidiu, por ele não ter correspondido aos seus anseios homoafetivos.
O caso de D. Abade que se tornou público com direito a fotos e noticiário em jornais do Brasil e até no exterior, por suas aventuras amorosas com diretor de escola casado. Um triângulo digno dos filmes de Almodóvar.
Padre que não assumiu os filhos e estes já homens feitos indo visitá-lo no Lar Sacerdotal e conversando tranquilamente. Padre sofrendo por amar uma professora e não se decidir em levar o romance até o fim por amar também o serviço sacerdotal. Religioso se encontrando com mulher sem poder assumir. Padre também já de idade avançada com uma companheira se encontrando furtivamente até o final da vida. Bispo alterando testamento de professor para vender uma casa que seria destinada à paróquia pobre e ficando com dinheiro. Religioso assediando jovens masculinos em colégio tradicional. Bispo em casos de pedofilia recebendo até processo do MPF. Bispo caluniando padres e fazendo redigir e assinar documentos falsos. Escândalo em paróquia com relacionamento a três ao mesmo tempo. Bispo estrangeiro vindo cá com romance com a secretária. Seminaristas fazendo desfile vestidos de mulher. Reitor de seminário assistindo fitas pornô no próprio seminário. Assim vai...
A maioria dessas faltas estão relacionadas com a afetividade coibida e a sexualidade reprimida e deformada durante a formação nos seminários.
Nada do que é humano é estranho a Deus, e se o mal e os desvios estão na Criação, bem mais está o Bem e o Amor de Deus para com todos nós. Analisando e estudando dois mil anos da presença da Igreja na vida da humanidade, podemos ter certeza que estaríamos bem pior sem ela.







sábado, 29 de julho de 2017

32 Minhas memórias da Igreja de Olinda e Recife 32

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32 Minhas memórias da Igreja de Olinda e Recife 32



Os jovens oriundos do Grupo de Jovens de Boa Viagem (JUNA) tiveram uma atuação marcante desde o início da resistência contra as atitudes pastorais e administrativas de D. Cardoso, para eles iniciada com a expulsão do padre Luiz Antônio.
Uma parte assumiu o jornalzinho tanto na feitura, na edição, na distribuição, escrevendo artigos, ajudando no custeio. Cito com perdão se esquecer de alguns pela memória, Fernandinho, Sávio, Edênia, Josias, Alejandro, Paulinho (Paulo André), Lucinha. Confeccionaram camisetas com os dizeres "Igreja Sofre" com a lista de padres expulsos, que foi aumentando sempre.
Em 1991 o papa João Paulo II visitaria Natal.
Tivemos a ideia de denunciar os problemas da nossa Arquidiocese. Imaginamos e criamos uma faixa, que seri escrita em polonês (Strieder tinha um amigo polonês na UFPE) "Santo Padre, Olinda e Recife estão como ovelhas sem pastor! SOLIDARIEDADE", toda vermelha com 7 metros (salvo engano). O termo Solidariedade foi lembrado em referência ao sindicato polonês apoiado pelo papa que lutou contra o imperialismo russo.
Confeccionamos a faixa. Fomos para Natal no dia anterior (eu, Mírcia, Marcelo, Dóris, e Fernandinho e Lucinha). Nos postamos na avenida onde o carro com o Papa ia passar logo na chegada do aeroporto. Quando estava perto, abrimos a faixa. Um guarda perguntou de que se tratava (estava em polonês) aí eu disse: Santo Padre Olinda e recife saúdam seu pastor. Ele nos parabenizou. O papa passou com sua equipe saudando os que estavam na margem da estrada. Vimos quando ele e alguns assessores ficaram olhando a faixa.
De madrugada fomos chegando ao local onde seria a missa campal. Enrolamos a faixa. Estavam revistando o pessoal. Conosco não teve problema. Era umas cinco horas da manhã e pudemos nos posicionar estrategicamente.
Uma multidão foi se aglomerando, e conforme combinado, na hora das orações da comunidade abrimos a faixa. Lá do altar (muitos bispos inclusive D. Cardoso) vimos um soldado do exército com binóculos olhando para a faixa, em seguida veio ordem para abaixarmos. relutamos, mas obedecemos. Depois da comunhão a abrimos mais uma vez até o final. Foi noticiado na antiga TV Manchete para todo Brasil. Um padre que estava na multidão passou por nós, sorriu e disse, eu sou polonês e entendo o que está escrito...  Soubemos que o papa havia lido a faixa e que D. Cardoso comentou lá do altar "é coisa de D. Marcelo" (se referia a D. Marcelo Carvalheira).
Em 1995 D. Marcelo Carvalheira tomou posse com arcebispo da Paraíba. Pois bem, sabendo que o núncio estaria presente, bem como todos os bispos do Nordeste, fomos à sua posse no estádio Ronaldão de João Pessoa.Desta vez confeccionamos uma faixa branca, em português com os dizeres: "Santo Padre, Olinda e Recife continuam como ovelhas sem Pastor" SOLIDARIEDADE!
Abrimos a faixa eu e Marcelo , no último degrau da arquibancada. Antes de iniciar a cerimônia D. Cardoso, mesmo enxergando apenas com um olho só, olhou lá de baixo e disse "um é Assuero o outro não sei quem é". No serviço de som pediram para algum representante do grupo ir falar com Luiz Antônio (que já estava em João Pessoa) e ele pediu para não abrirmos a faixa pois era a posse de D. Marcelo Carvalheira e era constrangedor. Não atendemos o pedido e mantivemos a faixa aberta. depois foi um seminarista querer tomar à força de nossas mãos, o que reagimos e ele saiu.
Assim era a vida de 'militantes' pela Igreja.
O cristianismo sempre foi desde o início um movimento de jovens e no dia que a Igreja perder sua juventude, o que será da propagação da fé?





sexta-feira, 28 de julho de 2017

31 Minhas memórias da Igreja de Olinda e Recife 31

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31 Minhas memórias da Igreja de Olinda e Recife 31



Quero registrar  os responsáveis pelo jornal Igreja Nova. A princípio foram eu, Marcelo Calábria, Fernando Brito,Romildo Estefanin e Edênia Ribeiro. Depois Edênia saiu, e meses depois entraram Gonzaga e Fátima, Déo e Bete, depois entrou Dóris. A tiragem inicial era de 2.000 jornais passando a 3.000 Lucinha entrou depois. Sérgio e Rejane entraram em 1993. Neste ano também entraram como responsáveis Antonio Carlos e Josias, Luciano e Naira, Jairo. Mírcia em 1994. Zezé em maio de 1995 e Clarinda em agosto desse ano. Em setembro saiu Lucinha e entraram Waldemir e Normândia, Hercílio e Maria Helena e Terezinha. Em março de 96 Inácio Strieder. No ano 2000  também estavam Goretti e Jovem, Fernando Lindoso e Carminha, e Rosilda. Creio que essa composição permaneceu até a minha saída em 2003.
Conforme escrevi no capítulo anterior, a preparação da I Jornada Teológica do Recife (Depois chamada Jornda Teológica D. Helder Camara) aconteceu no auditório da FAFIRE na Conde da Boa Vista de 3 a 7 agosto de 1998.
Os palestrantes foram Eduardo Hoornaert (aluno e depois professor do ITER) especialista em história da Igreja, D. José Maria Pires arcebispo da Paraíba, quem recebeu de braços abertos a imensa maioria da diáspora provocada por D. Cardoso, D. Francisco Austregésilo bispo de Afogados da Ingazeira, Pe. José Comblin teólogo de primeira linha amigo também e professor do ITER, e Frei Betto na época um expoente da teologia. As atrações artísticas, todas vindo gratuitamente foram respectivamente (uma a cada noite) Balé Kátia d'Angelo com uma coreografia especial da Sinfonia dos Dois Mundos, vocal Missa Afro, Grupo de chorinho Nuca e Genilson, Pe. João Carlos e sua Banda e Reinaldo de Oliveira declamando poemas de D. Helder.
Nossa alegria foi muito grande quando Pe. João Pubben entrou no auditório trazendo D. Helder. Foi aplaudido de pé. Veio também Zezita, Pe. Arnaldo, Pe. Edwaldo, Pe. Zé Augusto, que formavam um quarteto de todas as noites com Pe. João. Frei Aluizio, Pe. Renato. 
Foi ofertado um ramalhete de flores a Zezita que subiu ao palco e recebeu aplausos.
Centenas e centenas de pessoas entre padres, religiosos e religiosas, leigos e leigas, tudo gratuito e até cafezinho, água e pão. As editoras católicas principais, Vozes, Paulinas e Paulos e mais algumas comunidades ofereciam seus trabalhos na entrada antes do auditório (nada cobramos).
Uma emoção. Eu fiquei nos bastidores já pensando na segunda jornada no próximo ano. Tudo correu na santa paz e alegria do reencontro.
Registro aqui a grande ajuda de Frei Aluizio que foi comigo meses antes, na Fafire onde ele era capelão e conseguiu o auditório gratuitamente com a irmã diretora, além da ajuda financeira com seus amigos franciscanos da Alemanha.
E nesta alegria do reencontro a Igreja de Olinda e recife se reencontrou consigo mesmo e seu eterno Dom.  





quinta-feira, 27 de julho de 2017

30 Minhas memórias da Igreja de Olinda e Recife 30




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30 Minhas memórias da Igreja de Olinda e Recife 30



Escrever na primeira pessoa do singular é uma maneira muito antipática de se narrar alguma coisa, menos pior apenas do que na primeira pessoa do plural. Raramente faço isso e reluto em fazê-lo, no entanto, ao narrar as minhas memórias só o posso fazê-lo na primeira pessoa do singular, pois não se não se tem o rigorismo dos historiadores nem a liberdade dos romancistas. 
Quando falo do grupo e tento analisar os sentimentos à luz da passagem do tempo, é evidente que estou inserido nele (no grupo), mas ao narrá-lo tenho que temperar as palavras com meus sentimentos e memórias que são minhas e não do coletivo. É difícil, mas vou tentando.
Pensei na realização de uma jornada (é evidente que no início não tinha esse nome, nem calculei sozinho sua duração) teológica que resgatasse a irradiação da nossa Igreja de Olinda e Recife para o Brasil (especialmente São Paulo) e para o mundo (especialmente América Latina), pela presença e atuação de D. Helder esses anos todos e mesmo no silêncio da repressão intra-eclesial mantinha a chama e a luz dessa sua presença.
Chegar perto do Dom era muito difícil. Desde os tempos do núcleo de teologia do Cendhec eu sabia que havia uma barreira de saias, quase intransponível, sua secretária Zezita. 
Zezita era uma espécie se secretária-guardiã, mãe, madrasta, tia, sogra, guarda-costas, que mantinha todos os que não simpatizava longe do Dom, no entanto vale ressaltar, que graças a ela, toda a produção literária, premiações, medalhas, diplomas, mensagens, publicações nacionais e estrangeiras, mantiveram-se praticamente intactas. Sua rigidez e antipatia repelia a quase todos. Ressalto que teve sua vida, desde nova, dedicada aos cuidados do Dom, e se bebeu da fonte tão perto fez uma troca feliz, como Marta e Maria.
Como chegar a ela?
Havia um padre, João Pubben, que era uma espécie de secretário particular de D. Helder, que o acompanhava sempre, nas celebrações, nos cuidados, no dia a dia, e ainda havia a irmã Catarina, uma figura lendária, dedicada Filha de Caridade, da Congregação fundada por S. Vicente de Paulo. Pois bem, esses três personagens faziam parte do núcleo 'duro' mais perto do Dom.
Pe. João, já o citei antes, era capelão de Dois Unidos, vicentino, e que resolveu ficar ao lado dos pobres daquela comunidade junto com a irmã Priscila, e que resistiu a D. José, quando este, enviou de volta a Fortaleza todos os vicentinos que atuavam aqui, e que tinham como paróquia central, se assim posso chamar, Apipucos. Estão lembrados?
O caminho mais perto e mais viável para D. Helder era sem dúvida o Pe. João (é bom quando somos pontes em vez de muros). Eu e Sérgio fomos nos encontrar com ele na praça Chora Menino, na Boa Vista e trocar umas ideias e ouvir sugestões. É evidente que ele se animou e começamos a traçar estratégias logo em seguida. Tornou-se um irmão para mim e foi graças a ele que comecei a entrar na mística de São Vicente, pois até então, meus olhos e meu coração só viam S. Francisco.
O evento, no meu pensamento, teria que ter uma repercussão para todo Pernambuco e quiçá para o Nordeste. Sabendo dos nuances das regras de etiqueta e da política da Igreja (isso é universal e ela é mestra nisso, desde os tempos do renascimento italiano com a organização social e política dos Médici em Florença). 
Fui falar com padre Arnaldo e pedir seus conselhos. Ele achou a ideia muito boa, porém como sempre, não elogiou de imediato e colocou mil empecilhos, isso sondando qual a intenção que havia na realização de um evento como esse: vaidade? orgulho? mostrar força ao arcebispo? Convenci-o que não era nada disso, apenas resgatar a formação dos leigos, diáconos e até padres. Formação para Pe. Arnaldo era seu núcleo de serviço à Igreja. A partir daí apoiou totalmente.
A próxima etapa seria convencer os bispos de outras dioceses, o que era bem mais difícil, pois, como eu escrevi antes, nenhum bispo afronta outro bispo, nem entra na diocese de outro sem permissão tácita.
Eu já tinha uma boa amizade com D. Francisco Austregésilo (saudoso bispo de Afogados da Ingazeira, no nosso sertão); quando ele vinha para Recife eu sempre me encontrava com ele e ficávamos conversando por horas sobre problemas da política e da Igreja. Então, certa vez o levando de carro para o Terminal Rodoviário lá no Curado, à noite, conversei sobre a ideia da Jornada. Ele parou, refletiu e só me perguntou uma coisa 'vai ter alguma crítica a D. José Cardoso?', eu disse que não e dei minha palavra de cristão. Então ele abençoou o empreendimento.
Fui falar com D. José Maria Pires e pedir sua opinião. Ele pensou (falava menos que D. Francisco), ficou preocupado se haveria algum manifesto contra D. José Cardoso e eu garanti que não. Pronto, a Jornada na sua essência estava pronta, faltava o acidental (lugar, dinheiro, convite a palestrantes, grupos culturais, etc...). Nunca tive um só momento de dúvida que iria dar certo, pois sentia que Deus estava conosco. A partir daí o grupo todo se engajou.