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sábado, 22 de julho de 2017

26 Minhas memórias da Igreja de Olinda e Recife 26



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26 Minhas memórias da Igreja de Olinda e Recife 26



A paróquia do Espinheiro tinha um problema com menores de rua 'cheira-cola' que ficavam perturbando na entrada e saída das missas, vomitavam nos batentes, dormiam por ali mesmo. Eram abandonados mesmo, egressos da antiga FEBEM. Seguindo a mesma linha de D. Helder, o pároco buscava uma solução cristã. São os prediletos de Deus, dizia ele, e se admirava com um deles que dizia 'esse pretinho aqui Pe. Arnaldo pode ninguém gostar, mas tenho certeza que Deus me ama'.
Pois então, o padre criou o Projeto Salvação onde  toda manhã esses meninos e meninas eram acolhidos no salão paroquial, tomavam banho, escovavam os dentes, recebiam roupas limpas, tomavam um farto café, uma dentista tratava dos dentes, eu consultava e levava remédios, depois tinham atividades de aprendizado e arte, almoçavam e à tarde ainda tinham lanche. A nossa angústia era tirá-los das drogas e da vida sem perspectiva. Atendi a muitos alguns vomitando e grogues por causa da cola.
Pe. Arnaldo colocou recursos do próprio bolso, da paróquia e teve uma generosa doação de um paroquiano que nunca quis se identificar que doou uma quantia suficiente para comprar uma casa na Encruzilhada, ampla, para o Projeto Salvação. O que foi feito, o que permitiria eles dormirem à noite e ter suas atividades na casa. Fica perto do Mercado da Encruzilhada. Houve resistência dos vizinhos "trazer esses cheira-cola" para aqui! Reclamaram, mas foi realizado. Pouco depois Pe. Arnaldo entregou a paróquia para os carmelitas.
Na arquidiocese a perseguição continuava. Com a saída de Luiz Antonio para a Paraíba, o nosso grupo continuou se reunindo uma vez por semana, em diversos locais. Geralmente convidávamos um palestrante e depois servia-se um lanche. Havia uma união muito forte e apesar de se ter pessoas de diversas matizes políticas todos se respeitavam e se relacionavam cortesmente, a política partidária não havia envenenado as relações.
D. Helder sempre calado, nada comentava sobre a situação da Arquidiocese embora sofresse o com silêncio imposto. Era obediente à Igreja institucional. Eu comentava com Pe. Arnaldo e ele me dizia 'você não conhece o velho (de maneira filial), ele jamais comentará nada, se assim o fizesse não seria D. Helder'. Devo confessar que eu às vezes tentei, sem nenhum sucesso.
D. Helder sempre celebrava a missa de véspera de ano no Espinheiro com Pe. Arnaldo. Nesse tempo, ele um pouco enfraquecido pela idade, pensei em fazer um filme que registrasse essa celebração com os dois. Convenci Sérgio que tinha a filmadora (imaginem naquele tempo uma filmadora semiprofissional  de não sei quantos quilos.... fiz uma imagens do luar e de coqueiros em Barra de Catuama e algumas árvores do Parque 13 de Maio, Sérgio fez todas as outras, escolhi as música (Bachianas se não me engano) fiz o roteiro e o texto e Edelomar fez a narração, a Edite.com fez a edição. Uma preciosidade que agora a pouco consegui digitalizar num formato compatível com o Youtube Dei o título "Helder e Arnaldo, uma Celebração", filmado em VHS e com áudio precário. Tudo era difícil, tudo era apaixonante. Hoje não percebo essa paixão pelos mais jovens, talvez meus olhos estejam pela saudade. 

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