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quinta-feira, 27 de julho de 2017

30 Minhas memórias da Igreja de Olinda e Recife 30




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30 Minhas memórias da Igreja de Olinda e Recife 30



Escrever na primeira pessoa do singular é uma maneira muito antipática de se narrar alguma coisa, menos pior apenas do que na primeira pessoa do plural. Raramente faço isso e reluto em fazê-lo, no entanto, ao narrar as minhas memórias só o posso fazê-lo na primeira pessoa do singular, pois não se não se tem o rigorismo dos historiadores nem a liberdade dos romancistas. 
Quando falo do grupo e tento analisar os sentimentos à luz da passagem do tempo, é evidente que estou inserido nele (no grupo), mas ao narrá-lo tenho que temperar as palavras com meus sentimentos e memórias que são minhas e não do coletivo. É difícil, mas vou tentando.
Pensei na realização de uma jornada (é evidente que no início não tinha esse nome, nem calculei sozinho sua duração) teológica que resgatasse a irradiação da nossa Igreja de Olinda e Recife para o Brasil (especialmente São Paulo) e para o mundo (especialmente América Latina), pela presença e atuação de D. Helder esses anos todos e mesmo no silêncio da repressão intra-eclesial mantinha a chama e a luz dessa sua presença.
Chegar perto do Dom era muito difícil. Desde os tempos do núcleo de teologia do Cendhec eu sabia que havia uma barreira de saias, quase intransponível, sua secretária Zezita. 
Zezita era uma espécie se secretária-guardiã, mãe, madrasta, tia, sogra, guarda-costas, que mantinha todos os que não simpatizava longe do Dom, no entanto vale ressaltar, que graças a ela, toda a produção literária, premiações, medalhas, diplomas, mensagens, publicações nacionais e estrangeiras, mantiveram-se praticamente intactas. Sua rigidez e antipatia repelia a quase todos. Ressalto que teve sua vida, desde nova, dedicada aos cuidados do Dom, e se bebeu da fonte tão perto fez uma troca feliz, como Marta e Maria.
Como chegar a ela?
Havia um padre, João Pubben, que era uma espécie de secretário particular de D. Helder, que o acompanhava sempre, nas celebrações, nos cuidados, no dia a dia, e ainda havia a irmã Catarina, uma figura lendária, dedicada Filha de Caridade, da Congregação fundada por S. Vicente de Paulo. Pois bem, esses três personagens faziam parte do núcleo 'duro' mais perto do Dom.
Pe. João, já o citei antes, era capelão de Dois Unidos, vicentino, e que resolveu ficar ao lado dos pobres daquela comunidade junto com a irmã Priscila, e que resistiu a D. José, quando este, enviou de volta a Fortaleza todos os vicentinos que atuavam aqui, e que tinham como paróquia central, se assim posso chamar, Apipucos. Estão lembrados?
O caminho mais perto e mais viável para D. Helder era sem dúvida o Pe. João (é bom quando somos pontes em vez de muros). Eu e Sérgio fomos nos encontrar com ele na praça Chora Menino, na Boa Vista e trocar umas ideias e ouvir sugestões. É evidente que ele se animou e começamos a traçar estratégias logo em seguida. Tornou-se um irmão para mim e foi graças a ele que comecei a entrar na mística de São Vicente, pois até então, meus olhos e meu coração só viam S. Francisco.
O evento, no meu pensamento, teria que ter uma repercussão para todo Pernambuco e quiçá para o Nordeste. Sabendo dos nuances das regras de etiqueta e da política da Igreja (isso é universal e ela é mestra nisso, desde os tempos do renascimento italiano com a organização social e política dos Médici em Florença). 
Fui falar com padre Arnaldo e pedir seus conselhos. Ele achou a ideia muito boa, porém como sempre, não elogiou de imediato e colocou mil empecilhos, isso sondando qual a intenção que havia na realização de um evento como esse: vaidade? orgulho? mostrar força ao arcebispo? Convenci-o que não era nada disso, apenas resgatar a formação dos leigos, diáconos e até padres. Formação para Pe. Arnaldo era seu núcleo de serviço à Igreja. A partir daí apoiou totalmente.
A próxima etapa seria convencer os bispos de outras dioceses, o que era bem mais difícil, pois, como eu escrevi antes, nenhum bispo afronta outro bispo, nem entra na diocese de outro sem permissão tácita.
Eu já tinha uma boa amizade com D. Francisco Austregésilo (saudoso bispo de Afogados da Ingazeira, no nosso sertão); quando ele vinha para Recife eu sempre me encontrava com ele e ficávamos conversando por horas sobre problemas da política e da Igreja. Então, certa vez o levando de carro para o Terminal Rodoviário lá no Curado, à noite, conversei sobre a ideia da Jornada. Ele parou, refletiu e só me perguntou uma coisa 'vai ter alguma crítica a D. José Cardoso?', eu disse que não e dei minha palavra de cristão. Então ele abençoou o empreendimento.
Fui falar com D. José Maria Pires e pedir sua opinião. Ele pensou (falava menos que D. Francisco), ficou preocupado se haveria algum manifesto contra D. José Cardoso e eu garanti que não. Pronto, a Jornada na sua essência estava pronta, faltava o acidental (lugar, dinheiro, convite a palestrantes, grupos culturais, etc...). Nunca tive um só momento de dúvida que iria dar certo, pois sentia que Deus estava conosco. A partir daí o grupo todo se engajou.




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